José Renato Nalini Opinião

Um bom começo

A percepção de que os concursos públicos replicam a vulnerabilidade da escola brasileira, que prioriza a memorização em detrimento das habilidades socioemocionais, chega lentamente, mas pelo menos se faz presente. Tanto assim, que o CNJ estabeleceu um exame prévio, para que todos os interessados em ingressar na Magistratura sejam aprovados nessa prova preambular.
De idêntica forma, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos criou o seu CNU – Concurso Nacional Unificado, baseado no êxito do ENEM. A prova será no dia 5 de maio, para todos os interessados em qualquer das 6.640 vagas para vinte e um órgãos do governo federal, sejam os Ministérios, seja o IBGE.
Um passo importante foi trocar aqueles conhecimentos pressupostos, que devem ter sido ministrados e aprendidos no curso universitário, por conteúdos mais adequados aos tempos que hoje vivenciamos.
É cediço que uma das falhas do recrutamento é a desvinculação do candidato com a realidade que vai enfrentar se vier a ser aprovado. É o resultado de uma educação que só se atém à memorização, desatenta de que todas as informações estão disponíveis e não precisam estar na mente de quem pretenda ingressar no serviço público.
A geração tecnológica, que já nasceu com chip, sabe manusear todas as bugigangas eletrônicas e se servir da sabedoria disponível e plenamente acessível a quem disponha de um celular. O que falta é justamente o cultivo das competências socioemocionais. Bem vinda a inclusão de temas como realidade brasileira, políticas públicas, direitos humanos, diversidade, inclusão, meio ambiente, mudança climática e outros.
Também seria conveniente que o Exame Unificado do CNJ, para a seleção de magistrados para os quase cem tribunais do Brasil, incluísse mais ética, noções de psicologia, tratamento com as pessoas, sensibilidade, compaixão e tudo aquilo que, muitas vezes, parece faltar em profissionais aprovados à base do “decoreba”.
A ideia inicial é inspiradora. Mas não pode parar nisso. O ideal seria investir em cursos de preparação que se atualizem e consigam oferecer à nação quadros aptos ao enfrentamento dos desafios postos à contemporaneidade.