A gratidão é uma das virtudes mais negligenciadas. Dá-nos o Evangelho notícia a respeito. Quantos foram os cegos que passaram a enxergar depois do milagre do Nazareno? Quantos foram os que voltaram para agradecer? Confira-se.
Atribui-se a Napoleão, já no exílio na ilha de Santa Helena, ficar sabendo que alguém o difamava. Estranhou! Teria comentado: “Não me recordo de haver feito algum benefício a ele!”. Pois a ingratidão ocorre sempre em relação àquele que foi favorecido.
Há explicações para isso. O egoísmo humano considera obrigação de todos fazer o máximo pelo outro, que não tem o dever de agradecer. Mas há outro argumento de ordem psicológica. Aceitar que alguém mereça reconhecimento por um favor prestado é lembrar uma fragilidade. O ególatra se considera humilhado se tiver de se encarar como um humano que um dia necessitou dos préstimos de outro.
É próprio da fraqueza de caráter dos seres racionais esquecerem-se, rapidamente, das benesses recebidas. Assim que obtido o intuito ou objetivo, destina-se o fato ao mais submerso arquivo da inconsciência.
Diante da ingratidão, muitos se decepcionam. Acreditavam que os protestos de afeição e admiração fossem reais. Iludiram-se com o achego de quem apenas mirava a obtenção de algo.
É muito difícil para alguns que ocupam cargos ou funções consideradas nobilitantes, ou seja, aquelas que podem ajudar naturalmente o semelhante, defrontar-se com o ostracismo a que são relegados, assim que deixam o espaço funcional.
Sempre oportuno recordar o conto do asno carregando relíquias. O jumento fica envaidecido ante as reverências de quem acompanha a procissão, com o ostensório preso ao seu lombo. Na sua ingenuidade, acredita que os humanos se prostram de joelhos para homenageá-lo. Quando, na verdade, era a relíquia – ou o ostensório – que merecia a genuflexão.
Haverá o dia em que, despojado das vestes talares, ou da farda, ou da caneta que podia nomear, ele voltará ao estábulo. Aí, então, conhecerá os seus amigos. Que se reduzem drasticamente.
É bom não se iludir. Gratidão é joia raríssima. Quase como água límpida e fresca no deserto das vaidades.