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Cícero e a velhice

Publicado em TITO COSTA
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Marco Túlio Cícero, imperador romano, estadista, filósofo, orador famoso em seu tempo (ano 103 antes de Cristo) e sempre, até hoje, deixou-nos obras que ultrapassam os séculos, como por exemplo, um estudo traduzido entre nós por Paulo Neves com o título “Saber Envelhecer” (Ed. L&PM Pocket, 1997/Porto Alegre-RS). Destaco de seu texto, desde logo, o seguinte: “A vida segue um curso muito preciso e a natureza dota cada idade de qualidades próprias. Por isso, a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice são coisas naturais que devemos apreciar cada uma em seu tempo”. Diz ele que “a velhice é honrada na medida em que resiste, afirma seu direito. Gosto de descobrir o verdor num velho e sinais de velhice num adolescente. Aquele que compreender isso envelhecerá talvez em seu corpo, jamais em seu espírito”.
Em Jaú, quando eu ali cursava o ginasial e o colegial (em tempos imemoriais...) morei numa pensão, cuja dona tinha o pai Sr. Sampaio, que morava ali, aos sessenta anos de idade. Dizia-me ele: “seu Costa, velho com sessenta anos tem que mandar matar, não presta mais para nada”. Eu, então nos meus dezoito anos, achava aquilo um absurdo, e ainda hoje aos noventa e tantos, continuo achando.  Aos sessenta ainda se é jovem nos tempos atuais e também naqueles idos da década de 1940! Depende da cabeça de cada um, como lembra Cícero ao dizer que “dedicando nossa vida ao estudo, empenhando-nos em trabalhar sem descanso, não sentimos a aproximação sub-repticia da velhice. Envelhecemos insensivelmente sem ter consciência disso e, em vez de sermos brutalmente atacados pela idade, é aos poucos que nos extinguimos”.
Ao cuidar dos prazeres, especialmente do sexo, Cícero se revela muito comedido, contestando aqueles que, como Pirro, afirmava que a busca do prazer deveria determinar todos os nossos atos, com destaque pelos prazeres do sexo aos quais os velhos não devem desistir.  A propósito, contaram-me faz tempo, a história de uns senhores já idosos, freqüentadores do Joquey Clube no centro de São Paulo, que certa vez resolveram aproximar-se de umas meninas-moças que por ali passavam e foram por eles seguidas.  De repente, as meninas param na calçada, certamente à espera de seus seguidores, que também ficaram parados. Um deles falou aos demais: e agora? Resposta: vamos voltar. É assim que alguns velhos assanhados, iludidos por atrativos ocasionais, costumam reagir quando a coisa pode começar a dar resultado.  Por isso Cícero pergunta: por que falar tanto do prazer, pois em vez de censurar a velhice devemos nos felicitar que ela não nos faça lamentar demais a falta dele. Uma advertência ou manifestação de conformismo?

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