Imprimir esta página

Isolamento e memórias

Publicado em TITO COSTA
Lido 416 vezes
Avalie este item
(1 Voto)

Meus leitores desta minha modesta coluna semanal de muitos anos devem estar sabendo do meu confinamento na cidade de Torrinha, onde eu nasci e onde estão sepultados meus pais, tios e avós e, também o filho Ricardo falecido há sete anos. Meu filho André, falecido aos trinta anos  quando frequentava ainda o quinto ano do curso de medicina no Rio de Janeiro  teve o corpo cremado a seu pedido e suas cinzas recolhidas numa pequena caixa está colocada no túmulo de minha mulher Léa e outros familiares, num cemitério em São Paulo. Tantas perdas de pessoas queridas e eu, aos noventa e sete anos de idade, continuo resistindo ás tempestades, à espera de minha hora, depois de uma vida sofrida, com algumas alegrias e muitas tristezas, aguardando a minha vez. E dúvida: sepultado em São Bernardo ou Torrinha?  Nesta eu nasci; na outra vivi dias importantes á frente da Prefeitura colecionando alegrias e tristezas, o que é natural na vida de políticos, como fui.
Meu mandato frente ao Município de São Bernardo, como prefeito, em pleno  regime militar, propiciou-me momentos de alegria, e por que não, sobressaltos em face de dias de grande repressão militar, especialmente, para os eleitos, como fui, pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), partido que se opunha ao do governo (Arena - Aliança Renovadora Nacional). Havia só dois partidos: o de oposição e o do governo), ao contrário de hoje onde temos até agora 17 agremiações políticas partidárias, por enquanto.  Uma fartura e uma inutilidade...
Procurei fazer o melhor que pude, sob forte pressão Militar.
Assumi a defesa do movimento dos trabalhadores, embora sabendo dos riscos que enfrentava (ainda não havia o PT, criado depois de findo o meu mandato de prefeito). Em face dessa minha posição política fui chamado a Brasília atendendo a um chamado do General Golbery do Couto e Silva, o poderoso chefe da Casa Civil do governo militar. - Prefeito, o senhor está abusando em seu mandato contra o regime militar, foi logo dizendo-me ele. Perdão, disse-lhe eu. Estou, de certa forma, ajudando o governo na medida em que enfrento e contorno dificuldades e problemas nascidos da Oposição ao governo de vossa excelência. E ele, depois de outras advertências: - prefeito volte ao seu mandato e tome bem conta dele. Era um aviso e uma advertência porque o mandato poderia ser cassado pelo regime do qual ele era expressiva força de comando e de autoridade. Inúmeros mandatos populares de eleitos pelo MDB (a única oposição ao governo militar) já haviam passado pelo braço armado do governo com a cassação.
Passados os dias de arrocho do poder dos militares contra partidos e políticos que a eles  se opunham começou a tão sonhada "abertura" culminada com a Assembléia Nacional Constituinte que nos deu a Constituição ora em vigor com todas as Emendas que a ornam, integrando-se a ela.
E assim passamos da ditadura militar para o regime democrático em vigor até hoje, sujeito às constantes ameaças do atual presidente da república, militar reformado que, não obstante os freios que circundam seu mandato popular, insiste em enfrentar o poder constituído ainda vigente, lembrando que "Quem manda sou eu!" Até quando?

Folha Do ABC

A FOLHA DO ABC traz o melhor conteúdo noticioso, sempre colocando o ABC em 1º lugar. É o jornal de maior credibilidade da região
Nossa publicação traz uma cobertura completa de tudo o que acontece na região do ABCDM.

22 comentários

Main Menu

Main Menu