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Publicado em TITO COSTA
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26/07/14

Mais uma baixa na intelectualidade brasileira. Depois da morte recente do escritor João Ubaldo Ribeiro, chega a vez de Ariano Suassuna, aos 87 anos, no dia 23 deste julho, vítima de parada cardíaca depois de sofrer um acidente vascular hemorrágico.  Paraibano,  considerado o dom Quixote do Sertão, ele é apontado,  à unanimidade,  como uma das mais importantes figuras da cultura brasileira.  Entre seus trabalhos mais badalados e conhecidos estão  o “Romance da Pedra do Reino” e a peça teatral  “Auto da Compadecida”,  levada ao cinema e à TV,  tendo a atriz   Fernanda  Montenegro no papel principal e Matheus Nachtergaele  encarnando o João Grilo, personagem que transmite as idéias e os ideais de seu criador.  Aliás, esse conhecido e aplaudido ator escreveu comovedora carta ao falecido, agora depois da morte de Suassuna,  reproduzida em alguns jornais, em que destaca sua condição de “cavalo” do Grilo. Depois de lembrar  ter sido portador  (cavalo) das idéias e das mensagens embutidas nas falas de tantos e renomados autores  (Shakespeare, Chekhov, entre eles), diz que de todos eles, meu favorito foi o teu João Grilo porque “ele colocou em mim rédeas de cisal, sem forçar com ferros minha boca cansada (enquanto) buscava  sem fim uma paragem de bom pasto, uma várzea verde entre a secura dos nossos caminhos”.
Homem do Sertão, Suassuna repercutia  a cultura  regional de sua gente, seus costumes, trazendo tudo isso, por meio de  seus bem elaborados textos, ao conhecimento de todos, dentro e fóra do Brasil. Assim, universalizou o seu Sertão querido. Filho de político, não se deixou envolver pela política que marcou sua família por tragédias, entre as quais a morte do pai João Suassuna,  presidente do Estado da Paraíba.  Ele foi assassinado a tiros no Rio de Janeiro, nos anos 1930, no bojo da revolução política da qual foram figuras de destaque  Getúlio Vargas,  João Pessoa,  sobrinho do ex-presidente Epitácio Pessoa  (naquele tempo o governador do Estado era  “presidente”  do Estado), o presidente Washington Luís e tantos outros. Foi nesses tempos tumultuados politicamente que João Pessoa  (hoje nome da capital do Estado) foi assassinado a tiros por um advogado ligado aos Suassuna,  aumentando assim a agitação do clima político  que envolvia tradicionais famílias do coronelismo naquelas plagas nordestinas.
Neste modesto canto de página registro a morte de Ariano Suassuna, com reverências a essa figura de destaque no território cultural brasileiro. Reproduzo versos dele, dedicados a seu pai,  que idolatrava,  lembrados pelo escritor e jornalista José Nêumane:  “Aqui morava um rei quando eu menino./Vestia ouro e castanho no gibão,/Pedra da Sorte sobre meu Destino,/Pulsava junto ao meu, seu coração”. Só um verdadeiro Poeta sabe dizer assim.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex-deputado federal constituinte de 1988. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

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