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Aproximações curiosas

Publicado em TITO COSTA
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O jornalista e escritor Roberto Pompeu de Toledo, no segundo livro sobre São Paulo, conta-nos fatos interessantes da história da paulicéia, suas gentes, seus costumes. No capitulo em que escreve sobre a aristocracia paulista, destaca a figura do Conselheiro Antonio Prado, filho de d. Veridiana Prado, prefeito da capital, personagem influente no mundo social e político de sua época. Registra Pompeu curiosa observação da filha de Antonio Prado, Nazareth Prado, em relato comemorativo ao centenário de nascimento do pai: “A cada refeição ele refazia a toalete nos seus mínimos detalhes”. (São Paulo, A Capital da Vertigem, Ed. Objetiva-SP, 2015, pág. 56).
Esse detalhe interessante sobre o requinte do viver e do trajar-se da aristocrática figura, leva-me a uma aproximação, meio forçada até, a um fato real de nossos dias.
Guardadas as devidas proporções e as personagens, conto-lhes o seguinte: ano de 1970. André Franco Montoro é eleito senador e eu seu suplente. Tínhamos um motorista particular comum, o João. O João tinha um irmão, o Armindo, ambos pessoas simples e pobres, este lavador de ônibus da CMTC. De repente e por ares e caprichos da sorte, o Armindo ganha o prêmio de três e meio milhões de cruzeiros (a moeda da época) na loteria esportiva. Ficou rico, mas despreparado para enfrentar os apelos e as seduções da riqueza.
Armindo, trazido pelo irmão João, nosso motorista, pediu-me orientação de como lidar com a fortuna que lhe viera às mãos. Primeiro, comprou três carros à vista, um para ele e outros para seus dois irmãos. Depois, uma casa em Moema. À vista. Aconselhei-o a comprar a prazo, aproveitando-se ao máximo dos juros da aplicação da bolada. Não quis. Quero pagar â vista. E pagou.
Deixei logo o cargo de seu advogado, pois ele queria gerir seu dinheiro a seu modo, iludido com a idéia de que poderia gastá-lo à vontade, sem limites. Certo de que o dinheiro nunca acabaria.
Na inauguração da casa fez um festão pela madrugada a dentro, regado a bebidas, como convinha. E aí vem a aproximação referida no título desta crônica, preservadas as necessárias proporções. Tal como o requinte do Conselheiro Antonio Prado ao vestir-se para as refeições, a esposa de Armindo esmerou-se e, durante a festa, para deslumbramento dos convidados, gente simples como ela e os filhos, trocou suas vestes e joalherias por três vezes. Um sucesso, que só a riqueza, e o despreparo para geri-la, podem explicar. Assim me contou um pintor de paredes, meu amigo, convidado para a festa.
Para resumir a história, que foi longe: Armindo contratou um motorista branco (ele era preto e não sabia dirigir). Saia nos fins de semana, de carro, a farrear. Até que um dia, em Poços de Caldas, teve uma desavença com o porteiro do hotel onde se hospedara, e matou-o a tiros. Foi processado por homicídio e condenado. É de supor-se que boa parte do que ainda houvesse da dinheirama, deve ter sido gasta em sua defesa, por um diligente advogado, certamente bem remunerado.

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