Editorial

A pirotecnia das convenções partidárias

Faltam cerca de dois meses para o primeiro turno das eleições municipais, que acontecerá no domingo (6) de outubro. A contagem regressiva já foi aberta com o início das convenções partidárias que começaram, no dia 20 de julho e terminam nesta segunda (5) de agosto.
Neste período, estão sendo realizados todos os eventos nos quais partidos e federações oficializam os nomes de seus candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereadores em todos os municípios.
Após a escolha das candidaturas em convenção, a legenda já pode solicitar o registro das candidaturas à Justiça Eleitoral, até quinta (15) de agosto. Então, a partir de sexta (16) de agosto, todos os candidatos poderão iniciar suas campanhas eleitorais e, enfim, fazer o que todo político mais gosta: pedir voto.
Contudo, ainda que as campanhas não tenham iniciado oficialmente, é durante as convenções que os pré-candidatos vivem um dos momentos mais efusivos do período eleitoral.
Esses eventos se tornam uma verdadeira competição de shows pirotécnicos, que ostentam grandeza e muito dinheiro. “Vale tudo” para conquistar potenciais eleitores e mostrar força, muita força política, seja para se manter no poder ou conquistar a Prefeitura do adversário. Os artifícios para seduzir o eleitorado são variados: dezenas de telões gigantes de LED, balões com as cores dos partidos dos pré-candidatos, bandeiras do Brasil, buzinas náuticas, gerbs (tipo de fogo de artifício que produz um jato de faíscas, com duração média de 15 a 60 segundos), diversos jatos que lançam, em altura considerável, uma verdadeira “chuva” de papéis picados coloridos, e claro, muitas bandeiras com os rostos dos postulantes e seus apoiadores de peso.
Tudo, ao som de seleção de músicas, que vão desde baladas eletrônicas, funk como o “O pai tá on”, até grandes clássicos da MPB, como Gonzaguinha e seus versos: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar, e cantar, e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz”, ou jingles no último volume. Sem falar nos gritos sincronizados de apoiadores, misturados ao som de baterias de escola de samba. Diversos ônibus entopem os locais com milhares de populares “convidados”: 5 mil, 10 mil? Quanto mais gente lotando o salão, mais força política.
Também ganha peso o pré-candidato que trouxer um nome de destaque do cenário da política nacional, principalmente se tiver trânsito em Brasília. Nas convenções partidárias do ABC nunca foi visto tantas autoridades. Veio, para a região, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), que participou de duas convenções em dias distintos; os ministros Luiz Marinho (Trabalho), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovações); além de presidentes nacionais de partidos, Valdemar Costa Neto (PL), Gleisi Hoffmann (PT), Marconi Perillo (PSDB) e diversos deputados federais. Por enquanto, ficou falando a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) ou aliados de seu governo.
Nos discursos, as expressões mais repetidas, no caso de pré-candidatos à reeleição ou que buscam emplacar seus sucessores no governo, foram: “a cidade não pode voltar para trás”, “temos que continuar o trabalho”. Já para os postulantes que querem tomar as Prefeituras do grupo adversário, são pautadas em “vamos virar essa página”, “devolver a cidade para as pessoas”, “vamos recons-truir o município”. Tudo isso, claro, regado a muitos afagos à democracia, que nestas horas, é lembrada e defendida com afinco, mesmo por aqueles que, no dia a dia do governo, flertam com o autoritarismo.
É o momento onde todos estão acessíveis, para um abraço, aperto de mãos, selfies, troca de mensagens por WhatsApp, mas que têm data e hora marcados para acabar. Passada as eleições, muitos já trocam o número do celular, se blindam de dezenas de assessores e o povão? Será tão lembrado e prestigiado assim, quando? Daqui a quatro anos, quando vierem novas disputas eleitorais.

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