AME Memórias de São Bernardo

A primavera na minha infância

Neste domingo tem início a primavera e a nossa mente fica cheia de imagens coloridas. As recordações “afloram” e me fazem lembrar das flores da minha infância no bairro Assunção, em São Bernardo: na minha casa, na de meus avós: as “nonna” e os “nonno” como eram tratados. A nonna Pina e o nonno João moravam perto e quase que diariamente eu estava por lá. E me recordo que, depois de intermináveis dias de muita geada, cerração, garoa e frio intenso, surgia timidamente o sol, apesar de não ter a informação na época, sabia que era chegado um tempo colorido e de muita luz – era a primavera! Junto com ela, muitas flores, entre elas, os alvos lírios plantados pela nonna num enorme canteiro, as camélias cor de rosa que abarrotavam sua grande árvore, as compridas palmas, dálias de todos os matizes e tamanhos, os gerânios vermelhos e sulferinos que enfeitavam as floreiras do terraço e tinham também as alamandras amarelas que, antes de desabrocharem formavam carnudos botões que, sempre escondida, eu apertava nos dedos para ouvir o estouro, mesmo sabendo que mais tarde viria uma brooonca da nonna.
Aos domingos era dia de visitar os meus nonninhos Tereza e Giovanni. Então, atravessávamos a picada no meio do mato-entre a nossa rua e o parreiral do nonno.
Nesta trilha, dependuradas nas árvores sempre haviam bromélias e chuvas de ouro… À frente da casa deles ficava o jardim com uma extensa alameda com hortênsias, jasmins, roseiras, bocas de leão, cristas de galo, angélicas perfumadíssimas, umas folhinhas chamadas “dormideiras” – era só tocar nelas que elas se fechavam ou seja, “dormiam”.
Em nossa casa, existiam muitas dessas flores, mas as que mais predominavam eram as orquídeas. Meu pai, Angelo, era orquidófilo – daqueles de ir apanhar tais espécimes na mata, numa época que isso era permitido. Eeu aprendi com ele a arte de cultivá-las, até fazer enxertos e de como talhar o xaxim.
E minha mãe, Lídia, sempre estava cuidando de suas lindas rosas, principalmente aquelas que se enroscavam na cerca… Como a chegada da primavera mexe com as nossas lembranças! Todas essas casas e jardins são imagens pertencentes a um outro século.
Os nonos e nonas, papai e mamãe já partiram. Os jardins não existem mais e até muitas dessas flores talvez se foram. Ainda bem que preservo na memória essas lembranças, pois as minhas lembranças ainda não se foram…

Hilda Breda – integrante da Ame (Associação dos Amigos da Memória de São Bernardo)

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