Editorial

As árvores não são as vilãs

   A onda de tempestades e rajadas de ventos, agravadas pelas mudanças climáticas, devido ao aquecimento global, tem gerado muitos transtornos como interrupção de energia elétrica, árvores caídas nas ruas, sobre carros, casas ou edificações. Assim, parece que as árvores se tornaram vilãs do ambiente urbano e sinônimo de problemas, quedas e estragos.
   Mas será que são as árvores as verdadeiras culpadas do caos que se instala em uma cidade após as tempestades?
   De fato, não são. As árvores, ainda que grande parte de população não tenha parado para refletir ou não enxergue os seus benefícios, possuem um importante papel no equilíbrio térmico, pois fornecem oxigênio e assim diminuem a poluição do ar através da fixação do carbono, garantindo ar mais puro e, como resultado, melhoria na saúde respiratória e alívio psicológico.
   Igualmente relevante, as árvores também se mostram essenciais para amenizar impactos causados pelas mudanças climáticas, ao diminuir as ilhas de calor, o que traz conforto e bem-estar para toda a população.
Elas ainda fornecem alimento para os poucos pássaros e outros seres vivos vivos que ainda restaram nas cidades, embelezam qualquer ambiente com suas cores, previnem as erosões no solo e a poluição da água. Além de fornecer umidade que ajuda na formação de chuvas, as árvores também absorvem até 250 litros d’água. Dessa forma, corre-se menos risco de transitar em enchentes e alagamentos em lugares com mais área verde.
   Apesar disso, as árvores acabam tendo que lidar com os obstáculos da cidade, como fiação aérea, calçadas cada vez mais estreitas, espaços inadequados para plantio, falta de manutenção ou manejo adequado.
Muitas vezes, há também, uma poda abusiva ou feita de maneira errada, por parte das Prefeituras ou concessionária de energia elétrica, que acarretam a perda do equilíbrio das árvores, que é intensificado pelo fototropismo, ou seja, o fenômeno natural que faz com que as árvores e plantas cresçam em direção, ou, em alguns casos, na direção oposta, a uma fonte de luz.
   Especialistas e biólogos já alertaram: uma poda inadequada pode me deixar um galho mal cortado, que não cicatrizará, ocasionando uma ferida exposta. Esta ferida é uma porta de entrada para umidade e organismos que geram doenças, como fungos, cupins e outros. Além disso, os rebrotos que se formam após a poda se quebram facilmente, pois não tem ligação com o “esqueleto” da árvore.
   Com isso, é evidente que o real motivo da quedas árvores não é devido à tempestade ou ventos. Árvores sadias e bem cuidadas não ficam vulneráveis aos ventos, salvo se fossem atingidas por furacões ou tornados.
   O manejo incorreto é a principal causa da queda de árvores. Até hoje, as árvores passaram como se fossem invisíveis, por parte do poder público. Falta planejamento, e acompanhamento para driblar essa omissão.
   Assim, os departamentos públicos responsáveis se limitam a suprimi-las quando “incomodam” a fachada de estabelecimentos comerciais, derrubam muitas folhas nos telhados de casas, ou quando são alastradas pela praga erva-de-passarinho, devido a própria poda irregular que realizam.
   Cidade sem árvores e árvores sem copas, como acontece no ABC, serão as primeiras a sucumbirem com a intensificação dos fenômenos climáticos extremos do aquecimento global. Mas, muitos políticos não estão realmente preocupados com isso e só estarão quando for tarde demais e impactarem os cofres públicos de maneira severa.