Editorial

Debates ou ringues políticos?

O quarto debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, realizado no domingo (1), pela TV Gazeta, foi marcado pela troca de ofensas e agressões entre os adversários, com a discussão de propostas em segundo plano.
Os candidatos Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB) promoveram um bate-boca de baixo nível, com festival de apelidos, desde os primeiros minutos do programa, entre elas: “bananinha”, “Tchutchuca do PCC”, “Boules”, “picareta”, “ladrãozinho de creche”, “Chatabata”, “comedor de açúcar”, “Quico”, “Pablito”, “estelionatário virtual”, “criminoso” e “bandidinho virtual”.
O disparo de ofensas mútuas levou a um festival de pedidos de direito de resposta. A jornalista Denise Campos, que mediou o debate, fez apelos por respeito entre os candidatos, mas acabou atuando como se fosse uma professora de escola primária.
Suspeitas de envolvimento de Pablo Marçal e seus aliados com o crime organizado foram mencionados por todos os candidatos, em diversos momentos. O candidato do PRTB atiçou Datena, em uma discussão: “Vem cá, uai”. Um dos jornalistas que fizeram perguntas também foi alvo de ataque de Marçal, que durante a fala dos outros candidatos repetia o gesto com o “M”, para distrair seus adversários.
O que deveria ser um debate com discussão de propostas para solucionar os infinitos problemas de São Paulo se transformou num jogo de vulgaridade e grosseria, que envergonha a todos. Como os candidatos podem levar a um nível tão baixo um debate de propostas da cidade mais rica e mais populosa do Brasil, com mais de 11,4 milhões de habitantes?
No entanto, o que tem acontecido na política, principalmente, em ano eleitoral, é um reflexo da sociedade brasileira, uma total inversão de valores. Como escreveu o jornalista e apresentador William Waack: “o universo no qual estruturas hierárquicas (como partidos, por exemplo) são ofuscadas pela mobilização em redes sociais. No qual ‘projetos ou plataformas’ foram completamente substituídos pela excitação emocional trazida por alguns frames de imagens”.
Debates não são mais discussões de propostas, viraram verdadeiros ringues, com bate-boca de baixo nível, campanhas viraram um verdadeiro espetáculo com inúmeros assessores filmando os candidatos em todos os ângulos possíveis, e os candidatos se comportando como personagens de reality show, mostrando toda e qualquer atividade na frente das câmeras, quase que 12h por dia, ou como apresentadores de televisão, com sorrisos estampados, o tempo inteiro, sem qualquer naturalidade, mas destilando ironia, raiva ou singela intimidação aos jornalistas.
Os padrões morais, éticos, religiosos foram deixados de lado pelos candidatos. A política já se misturou ao universo fútil, vazio e descartável das redes sociais. Estar online o tempo todo, conquistando likes e seguidores é a verdadeira disputa entre os candidatos. Afinal, todos são poderosos e figuram em primeiro lugar em alguma pesquisa de intenção de voto por aí.
Mas com tanta superficialidade, quem será capaz de resolver os problemas da vida real, que nada se assemelha aos vídeos com sorrisinhos forçados e discurso ilusório de “cuidar de pessoas”? Ou tudo é uma questão de ângulo? Basta fazer uma atuação online proclamando uma série de falácias para induzir o eleitor a acreditar que “cuidar de gente” é o que ele faz de melhor e a vitória está garantida?

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