O caos pairou sobre São Paulo e municípios da Região Metropolitana, desde o temporal de sexta (3), com ventos de até 100 km/h e chuvas, que deixaram 7 mortos no Estado e mais de 4,2 milhões de imóveis sem energia elétrica, boa parte deles, por mais de 50 horas.
Na segunda (6), ainda restavam 500 mil residências e prédios comerciais no escuro. Os ventos de 100 km/h e as chuvas surpreenderam a população atingida. Na quinta (9), ainda havia 1.300 imóveis da Grande São Paulo sem energia.
Esse cenário caótico evidenciou a falta de planejamento e de mecanismos de prevenção e de adequação da infraestrutura de energia aos efeitos de eventos climáticos que tem se intensificado, cada vez mais.
Na Grande São Paulo, o Corpo de Bombeiros registrou mais 1.300 chamados relacionados à queda de árvores. Só no ABC foram tombadas 800 árvores, segundo a Enel. Ainda assim, a queda de árvores não foi a grande culpada do apagão, como disse o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). “O grande vilão desse episódio foi a questão arbórea”, disse Tarcísio.
Em tempos de desarranjo climático, que tem elevado o número de acidentes naturais e, consequentemente, causado prejuízos incalculáveis ao planeta, é difícil aceitar a perda de tantas árvores que têm papel fundamental para o equilíbrio térmico, regulam a umidade do ar, evitam erosões ao longo dos rios, realizam a fotossíntese resultando na produção de oxigênio essencial para os seres vivos, reduzem a poluição do ar, entre outros benefícios.
Porém a queda de árvores só confirma o já sabido. Não há qualquer plano de manuseio arbóreo, manutenção ou acompanhamento do estado de saúde dessas árvores, que ficam a Deus dará, condenadas ao tombamento no próximo temporal ou quando incomodarem alguma fachada de novo comércio, por exemplo. A responsabilidade é das Prefeituras, que acabam, quase que unicamente, atendendo pedidos para supressão de árvores que “atrapalham” residências ou comércios ao invés de fazer um plano para conservá-las e mantê-las em estado saudável. É preciso sim, de um plano conjunto de manuseio arbóreo, como também defendeu o governador.
A negligência por parte do poder público imputa sofrimento à população. Não se trata apenas de residências iluminadas por velas, geladeiras desligadas e prestadores de serviços com as portas arriadas durante dias. A falta de energia também trouxe riscos adicionais ao trânsito, inviabilizou o uso de aparelhos médicos em residências, impediu o teletrabalho e afetou a comunicação. Afinal, que bateria de celular dura mais do que um ou dois dias, hoje em dia?
Ficou escancarada a falta de preparo e rapidez na resposta aos casos de interrupção no fornecimento de energia elétrica por parte da Enel, também transpareceu a ausência de coordenação entre as prefeituras da Grande São Paulo e as concessionárias de energia para restaurar a normalidade. Levantamento feito pela Quaest a pedido do Estadão mostrou que, das 560 mil menções feitas nas redes sociais, referentes ao apagão, quase metade (42%) menciona o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) ou o prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Já passou da hora de prefeitos, governador e concessionárias pensarem na possibilidade de cabeamento subterrâneo para a rede elétrica, como já existe em dezenas de países. Mas, será que agora as autoridades públicas e concessionárias de serviços públicos acordaram para os efeitos da mudança climática sobre a população? O que ainda falta acontecer para que algo seja feito?