Editorial

O enfraquecimento da polarização nas eleições

As eleições de 2024 terminaram com resultados que contrariam as expectativas de intensa polarização e grande influência dos apoios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Os vitoriosos da corrida municipal de 2024 não foram os dois mandatários, mas sim os partidos de centro e centro-direita. A direita e a centro-direita vêm crescendo nos últimos oito anos. Em 2016, esse campo conseguiu 76% dos municípios e, em 2020, cresceu para 81,9%.
Lula (PT) e Bolsonaro (PL) perderam as disputas eleitorais na maioria das cidades que visitaram durante a campanha. Os dois tiveram estratégias distintas. Enquanto Bolsonaro viajou o país durante os dois turnos para emplacar aliados nas prefeituras, Lula esteve mais presente apenas na reta final do segundo turno. Assim, o presidente perdeu em 77% das cidades visitadas e, Bolsonaro, em 62%.
O PL de Bolsonaro elegeu quatro prefeitos em capitais, no melhor resultado desde o surgimento do partido. Foram dois no primeiro turno e dois no segundo turno. O partido do ex-presidente vai governar João Pessoa (PA), Rio Branco (AC), Aracajú (SE), e Cuiabá (MT).
Já o PT ganhou apenas a prefeitura de uma capital, Fortaleza (CE). Apesar do resultado fraco, houve uma melhora para a performance do PT, que não vencia em capitais desde 2016.
A força expressiva dos partidos do Centro foi mensurada com o desempenho dos partidos PSD e MDB. O PSD, partido de Gilberto Kassab, atual secretário de Governo e Relações Institucionais do Estado, vai liderar a maior parte da população do país: 887 municípios, entre eles, as capitais: Rio de Janeiro (RJ), São Luís (MA), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR) e Florianópolis (SC), mas em São Paulo, também faz parte da coligação que reelegeu o prefeito Ricardo Nunes (MDB). Já o MDB foi o segundo partido que elegeu mais prefeituras, irá comandar 856 municípios do Brasil, entre eles, as capitais: Belém (PA) e Porto Alegre (RS).
Esse desempenho é resultado de um misto de atuação desse campo, com o direcionamento de emendas para turbinar candidaturas, a conexão maior do eleitor com essa centro-direita e uma esquerda que precisa se renovar, para dialogar mais com os eleitores. Enquanto que a esquerda tem encolhido e se vê frente a um grande desafio: ter um discurso que se conecte com o eleitor e que vá além da base da pirâmide.
Um das principais lideranças do PT, José Dirceu, admitiu ao g1 que: “o resultado empodera a direita do ponto de vista psicológico para as eleições 2026”, diz que a esquerda recebeu diversos recados e que é necessária renovação para que se encontrem novas lideranças.
Além disso, as eleições mostraram a força dos governadores, principalmente devido à máquina pública e das alianças articuladas. Tarcísio de Freitas (São Paulo), Ronaldo Caiado (Goiás), Ratinho Junior (Paraná) e Helder Barbalho (Pará) saíram vitoriosos ao eleger seus apadrinhados nas capitais.
Portanto, as eleições municipais demonstram que a polarização, por ora, perdeu força, com vitória maciça do centro e centro-direita. Assim, os resultados das urnas trazem recados: o fortalecimento do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); obstáculos para a renovação do PT e o surgimento de novos fenômenos, tanto na direita, com Pablo Marçal (PRTB), quanto na esquerda, com a reeleição expressiva de João Campos (PSB) no Recife.

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