De janeiro a setembro deste ano, 1,7 mil empresas pediram recuperação judicial, volume 73% superior ao mesmo período de 2023. Trata-se do maior número em 19 anos, comparável apenas a 2016, quando 1,5 mil companhias entraram com o pedido, último antes da falência, no mesmo período.
Os principais vilões deste cenário são os juros altos, a inadimplência dos consumidores, a depreciação cambial, que pressiona custos, e a dificuldade de acompanhar as transformações tecnológicas. O Indicador de inadimplência realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) aponta que quatro em cada dez brasileiros adultos (41,06%) estavam negativados em agosto de 2024, o que representa 67,73 milhões de consumidores.
Já em relação à depreciação cambial, embora o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, continuar repetindo que o “câmbio está bom” (em torno de R$ 5, R$ 5,10), pois é “um câmbio competitivo”, o dólar voltou a subir. Fechou em R$ 5,87, na sexta (1), o que representou uma alta de 2,9% na semana. Foi o segundo maior patamar nominal da história, atrás somente de 13 de maio de 2020, aos R$ 5,90. A cotação da moeda norte-americana está acima de R$ 5 há 221 dias.
Apesar dos fatores externos, internamente, no entanto, é o risco fiscal que está levando à desvalorização do real. Tanto que levou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a cancelar a viagem que faria à Europa, na segunda (4), onde, em Paris (França), Londres (Reino Unido), Berlim (Alemanha) e Bruxelas (Bélgica), se reuniria com autoridades e conversaria com investidores. O cancelamento foi um pedido do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
É aguardado, enfim, o anúncio de um pacote de medidas voltadas ao corte de gastos por parte do governo, para equilibrar as contas públicas e viabilizar as metas de resultado primário estabelecidas pelo arcabouço fiscal, que a equipe econômica do governo vem discutindo e, cujas medidas, seriam anunciadas depois das eleições. Enquanto isso não acontecer, a Bolsa, o câmbio e a curva de juros brasileira continuarão sendo penalizados.
Já no campo, as mudanças climáticas contribuem para aumentar o número de empresas em dificuldades: 207 produtores rurais entraram com pedidos de recuperação judicial no primeiro semestre, segundo a Serasa, superando o número de todo o ano passado. O número de empresas do setor em recuperação judicial somente neste ano até agosto já é 16,3% superior ao total registrado em 2023, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima). As empresas de cultivo de soja lideram os pedidos de recuperação judicial no campo, com um aumento de 113% entre 2023 e 2024.
De acordo com relatório global produzido pela Allianz Trade, o Brasil poderá registrar um aumento de 33% nos casos de insolvência no Brasil em 2024, alcançando 3,5 mil empresas em situação de recuperação judicial ou mesmo falência. Para 2025 e 2026, a expectativa é de números ainda elevados: 3,4 mil e 3,2 mil casos, respectivamente.
Contudo, ainda não há perspectivas de arrefecimento nos pedidos de recuperação judicial no curto prazo, posto que há mais de 6,9 milhões de empresas no vermelho e R$ 149,1 bilhões em débitos inadimplentes registrados no Serasa. Mas, este cenário poderá levar os bancos a cobrarem taxas ainda mais altas, aumentar as restrições para concessão de créditos para as empresas e piorar a situação dessas empresas. Assim, é preciso célere empenho do governo federal, em ao menos, fazer as devidas medidas de contenção de despesas, para frear dívida e juros.
Adicione um comentário