O candidato republicano Donald Trump, de 78 anos, venceu as eleições dos Estados Unidos. A vitória de Trump evidenciou um novo realinhamento político americano.
As urnas indicaram que o Partido Republicano de Trump, de maneira surpreendente, após 90 anos de hegemonia democrata, conquistou o eleitorado mais pobre e sem formação universitária. Agora, nos Estados Unidos, a direita é a voz dos trabalhadores.
Os motivos que levaram a essa mudança, certamente, estão ligados à crise econômica do país. Segundo pesquisa de boca de urna do Washington Post, 68% dos eleitores acreditam que a economia está ruim. Com isso, acabou sendo criada uma nova identidade social mais conservadora entre os mais pobres e o sentimento de pertencimento a um grupo político.
Assim, houve uma migração de votos à direita em 48 dos 50 estados americanos, na comparação com a eleição anterior. As exceções foram Utah e o Estado de Washington. O empresário venceu o voto popular no país pelo Partido Republicano pela primeira vez desde 2004. Trump fez 51% dos votos, contra 47,6% de Kamala Harris. Este cenário aponta para um descontentamento com o Partido Democrata em diversos cortes demográficos.
Em 2016, 41% dos americanos que ganhavam menos de US$ 50 mil por ano votaram em Trump, em 2024, foram 50%. Já os números dos democratas variaram: Hillary teve 53%, Biden 55% e Kamala, 47%. Em relação aos mais ricos, que ganham acima de US$ 100 mil por ano, ocorreu o inverso. Os democratas registraram 47% com Hillary, em 2016, 42% com Biden e, agora, 51% com Kamala.
O senador Bernie Sanders afirmou que a derrota da atual vice-presidente Kamala Harris “não é nenhuma grande surpresa” e ainda que “não deveria ser nenhuma surpresa que um Partido Democrata que abandonou a classe trabalhadora descubra que a classe trabalhadora os abandonou”.
Esse movimento que sugere uma migração da classe trabalhadora das alas de esquerda é uma tendência que já ocorreu no Brasil, neste ano, nas eleições municipais, tanto que a participação dos partidos de esquerda na quantidade de prefeituras caiu 14%. Essas legendas saíram de 863 prefeituras ganhas há 4 anos para 746, em 2024. Enquanto isso, os partidos mais alinhados à direita aumentaram sua quantidade de prefeituras, avançando de 2.539 cidades, em 2020, para 2.650 neste ano, um avanço de 4%. Trata-se do melhor resultado da direita desde 2000.
Além de obter a maioria dos votos dos mais pobres e dos trabalhadores, Trump ainda venceu no grupo de americanos com baixa escolaridade, saindo de 48% dos votos dos sem diploma em 2016, para 50% em 2020 e 56% agora. Desta vez o discurso de Trump teve um maior impacto entre negros e latinos, antes refratários a sua mensagem. O apoio de negros e latinos, sem educação superior, à Trump saiu de 20% em 2016, para 34%, agora.
A mensagem que fica das eleições americanas também é aplicável ao Brasil, analisando o desempenho não tão promissor dos partidos de esquerda nestas eleições municipais. Assim como o Partido Democrata se desconectou com a classe trabalhadora e seus reais problemas, sem acompanhar efetivamente a mudança de seus anseios, os partidos de esquerda brasileiros, de acordo com os resultados das urnas, estão perdendo essa capacidade de interlocução com os mais pobres.
Portanto, se não houver renovação e mudanças necessárias, o cenário para o resultado das urnas para 2026 no Brasil poderá ser semelhante ao dos Estados Unidos. Afinal, tanto brasileiros como americanos querem a mesma coisa: emprego, casa, carro, estudo para os filhos e, quem sabe, no fim de semana, se sobrar dinheiro, algum divertimento.
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