A Scania completa, neste mês, 66 anos de Brasil. Com cerca de 5 mil colaboradores e capacidade técnica de produção anual de 30 mil veículos em sua planta em São Bernardo, o CEO e presidente da Scania Latin America, Christopher Podgorski, afirma que o mercado brasileiro é um dos principais mercados da Scania no mundo.
Em entrevista à Folha, o CEO revela projetos em desenvolvimento como novo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, a construção de uma Estação de Tratamento de Efluentes, a ampliação e renovação da Fábrica de Motores e as adaptações industriais para o cumprimento de etapa do Programa de Emissões Brasileiro PROCONVE P8 (Euro 6).
Podgorski também comenta sobre como a montadora tem acompanhado os avanços tecnológicos com foco na sustentabilidade e afirma que, até 2025, a redução na emissão de gases de efeito estufa chegará a 75% na fábrica de São Bernardo. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Folha do ABC – A Scania completa 66 anos. Desde a chegada ao país, quais foram os principais desafios enfrentados para a marca se manter competitiva?
Christopher Podgorski – Falar de desafios na trajetória da Scania é falar de uma jornada de evolução, sempre acompanhando tendências da humanidade e as inovações tecnológicas, transformando-as em soluções para seus clientes. Nossa história em solo brasileiro tem sido marcada pela construção de uma relação de confiança com todos os nossos públicos. Colaboradores, fornecedores, parceiros de negócio, autoridades, clientes e a sociedade em geral. É isso que nos garantiu sermos bem-sucedidos pelos últimos 66 anos. Nossa capacidade de manter-nos íntegros às promessas que fazemos, ou seja, a credibilidade é o componente de valor imensurável para a Scania. Sobre os desafios dessa trajetória, acreditamos que são aqueles próprios de um país rico em potencial, buscando crescer e se desenvolver. Atravessamos altos e baixos no cenário econômico-político e social, mas acreditamos no Brasil porque aqui estamos e vamos continuar.
Folha – Atualmente, qual a representatividade desta unidade em números? Há previsão de ampliação da unidade?
Podgorski – O mercado brasileiro é um dos principais mercados da Scania no mundo, não é por menos, um país com dimensões continentais e cuja economia se movimenta principalmente pelo modal rodoviário, estar aqui é uma condição básica para uma marca voltada ao ecossistema de transporte e logística.
Esta é uma história que começou a ser contada em 1957, quando a empresa ainda carregava o nome Scania-Vabis do Brasil S/A e os veículos vinham desmontados da Suécia e ficavam sob responsabilidade de montagem da Vemag, localizada no bairro do Ipiranga, em São Paulo. Naquele ano, foram comercializados 162 veículos e a empresa contava com 500 colaboradores. A fábrica de São Bernardo foi inaugurada em 1962 e foi a primeira unidade industrial para a produção de caminhões, ônibus e motores da Scania fora da Suécia.
À época éramos 1.500 colaboradores e com uma capacidade anual de produção de 815 veículos. Atualmente, a Scania reúne cerca de 5 mil colaboradores, com capacidade técnica de produção de 30 mil veículos.
Folha – O pacote de investimentos de R$ 1,4 bilhão, programado até 2024, tem contemplado quais novidades para a planta de São Bernardo? O que ainda está previsto?
Podgorski – As ações que estão dentro do ciclo de investimento (2021-2024) no montante de R$ 1,4 bilhão são as dedicadas à atualização e modernização do parque industrial e desenvolvimento de tecnologias alternativas ao diesel fóssil. Entre as iniciativas e projetos, estão o novo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, a construção de uma Estação de Tratamento de Efluentes, a ampliação e renovação da Fábrica de Motores e as adaptações industriais, tecnológicas e de competências para o cumprimento de introdução da atual etapa do Programa de Emissões Brasileiro PROCONVE P8 (Euro 6), entre outros projetos já finalizados.
Folha – Como a Scania tem acompanhado os avanços tecnológicos e no âmbito da sustentabilidade no transporte?
Podgorski – Um dos principais vetores para o avanço tecnológico com foco na sustentabilidade é a necessidade da descarbonização do setor de transporte e logística. Aqui contribuem diretamente o desenvolvimento de tecnologias que substituam os combustíveis fósseis, bem como tragam ganhos de eficiência. Esses esforços giram em torno, no Brasil e no mundo, das metas que precisamos atingir para alcançar esse objetivo. Exemplo disso são os investimentos no ganho de escala dos veículos movidos a gás biometano. Recentemente foi divulgado o lançamento do Scania X-Gas, primeiro caminhão do Brasil com autonomia de 900 km movido a gás natural veicular e/ou biometano. É um projeto que deve mudar o perfil do transporte sustentável no país.
Dentro da empresa também colocamos em práticas diversas ações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, desde 2020 somos livres de combustíveis fósseis para eletricidade e recentemente anunciamos que o biometano irá substituir integralmente o uso de gás natural das fábricas da Scania. A iniciativa viabilizada por meio de uma parceria com a Raízen vai permitir que a companhia supere a meta de descarbonizarão: reduzir em 50% a emissão de gases de efeito estufa em suas operações até 2025. No caso da fábrica em São Bernardo, a redução chegará a 75%.
Folha: A Scania firmou ainda parceria com a instituição acadêmica UNESP para experimentos e aplicações em ônibus BEV (Battery Electric Vehicle). No que consiste este projeto e qual a finalidade?
Podgorski – O desafio de reduzir emissões e descarbonizar o setor de transporte é gigante. Não temos a pretensão de fazer isso sozinhos. Parcerias e troca de conhecimento são fundamentais, e esse projeto consiste justamente nisso, validar as experiências e acelerar o progresso, lembrando que estar próximo ao mundo acadêmico é prática da Scania, há outros exemplos, como o desenvolvimento de uma das tecnologias usadas em caminhão autônomo, parte da pesquisa foi realizada com uma universidade brasileira.
O ônibus BEV em questão chegou ao Brasil no fim de 2021 para operar na fábrica da Scania em São Bernardo, exclusivamente para o transporte interno de colaboradores, com o objetivo de aprimorar e desenvolver conhecimento local e competências em torno da eletrificação no transporte, desempenhando uma função de ‘escola’ para que nossos engenheiros possam fazer adaptações do veículo às condições brasileiras, por exemplo, aquelas relacionadas ao clima.
O intercâmbio entre professores e alunos da UNESP com a Scania permitirá a realização de ensaios em laboratórios computacionais e aplicações práticas com o veículo, gerando conhecimentos dentro da parceria e para a modelagem computacional da dinâmica do escoamento de fluídos em sistemas e também para a análise estatística para o tratamento de dados de teste. Os dados coletados e os resultados do projeto serão disponibilizados em tempo real para todas as equipes de engenharia da Scania, otimizando o desenvolvimento da tecnologia BEV tanto na Suécia quanto no Brasil, os dois braços de engenharia da multinacional no mundo.
Fotos: Divulgação Scania
Por Nicole Floret – 22/07/23