ELEIÇÕES 2018
Eduardo Suplicy (PT), pré-candidato ao Senado, possui mais de 40 anos de vida pública. Foi vereador em São Paulo, por dois mandatos, também deputado estadual, federal, secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo e senador, por três mandatos consecutivos. Em visita à Folha do ABC, concedeu uma emocionante entrevista, exclusiva, acompanhado do presidente do diretório municipal do PT de São Bernardo, Brás Marinho, na qual relembrou os principais fatos que marcaram sua vida política ao longo dos anos e ainda comentou sobre o atual cenário político eleitoral nacional. Confira.
- FOLHA DO ABC – O sr. possui mais de 40 anos de vida pública, participou de momentos marcantes na história do País. Poderia relembrar alguns fatos mais marcantes na sua trajetória política?
EDUARDO SUPLICY- São 40 anos de vida política. Em 1978, escrevia na Folha de S.Paulo, artigos de política econômica e era professor, na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Certo dia, Oswaldo Cavinatto, (um jovem quaternista de economia) que assessorava a direção do Sindicato dos Metalúrgicos, disse ao presidente do Sindicato: Lula, hoje vai falar à minha classe, aquele professor Eduardo Matarazzo Suplicy, que escreve na Folha, você não quer assistir? E o Lula veio e eu falei de como o Brasil estava crescendo naqueles anos 70, do regime militar, mas com forte concentração de renda e de riqueza. No final, abri para perguntas, e o Lula levantou o braço e fez observações e perguntas, então, o professor da Fundação Santo André disse: ‘o que é que vai dizer o diretor da faculdade a hora que souber que está aqui um perigoso líder sindical?’. Lula se retirou do local. Após, começamos a conversar no pátio da faculdade e o Lula me disse para ir ao sindicato, para continuar a conversar e passei a visitar o Lula e por vezes escrevia algumas das opiniões dele nos meus artigos na Folha de S.Paulo.
Em outubro de 1978 participei de um grupo de amigos que ajudou a campanha de Flavio Flores da Cunha, para ser candidato a vereador e foi muito bem, no dia da eleição fomos comemorar a vitória, em 40 amigos, quando me disseram que queriam que eu saísse candidato a deputado nas próximas eleições. Então, conversei com pessoas como Ulisses Guimarães, André Franco Montoro, Plínio de Arruda Sampaio, o que é ser um representante do povo. Achei interessante, me inscrevi no MDB para ser candidato.
A essa altura já tinha me interagido bem mais com o presidente Lula. A ponto de, quando publiquei um livro denominado ‘Compromisso’, o Caio Graco Prado Jr e o Claudio Abrahão, me recomendaram a fazer o lançamento oficial do livro na Rua Barão de Itapetininga (SP), conversando com dois líderes sindicais, o Lula e o Afonso de Souza, que era o secretário do Sindicato dos Padeiros.
E assim, colocamos em frente a livraria, no calçadão, um tablado, com três cadeiras e com microfone, passamos a dialogar com o povo. Tinha umas 200, 300 pessoas. E eis que neste diálogo de quase duas horas, foi a primeira vez, que o presidente Lula formulou a ideia do Partido dos Trabalhadores.
Fui eleito deputado estadual, pelo MDB, em outubro de 1978, com 78 mil votos. Naquele primeiro ano, estava empenhado na luta por eleições diretas. Naquele ele houve também greve dos metalúrgicos, dos professores, dos lixeiros e preocupações da minha parte. Era chamado, eventualmente, como exemplo de diálogo com os trabalhadores e preocupação com direitos humanos.
Quando, no segundo semestre de 1979, o presidente Ernesto Geisel, do regime militar, extinguiu a Arena e o MDB, aqueles que começaram a formar o PT convidaram a mim e a Irma Passoni, Geraldo Siqueira, Marco Aurélio Ribeiro, Serginho dos Santos, eu e João Batista Bredas, seis deputados eleitos pelo MDB, para ingressarmos no PT, no dia de sua fundação, então, perguntei aos que tinham me elegido se deveria ingressar no partido, quase 80% disse que era o que esperavam de mim. E vi que o objetivo era construir um Brasil mais justo, fraterno, solidário, que isso deveria ser construído com democracia, com liberdade de expressão, de imprensa, inclusive da criação de partidos.
Aceitei e participei como cofundador do PT em 10 de fevereiro de 1980. E juntamente com pessoas como Sérgio Buarque de Holanda, Mario Pedrosa, e tantas lideranças amigas do Lula.
Quando chegou 1982, o partido me indicou para ser candidato a deputado federal. Em 1984 aconteceram as grandes campanhas pelas Diretas Já. Foi o PT o primeiro responsável como comício das Diretas Já, diante do estádio municipal do Pacaembu, na praça Charles Miller, onde compareceram cerca de 30 mil pessoas. Verificou-se que era um chamamento muito forte e tanto sucesso teve que as forças políticas se juntaram PT, MDB, PDT e todas as demais e em 25 de janeiro de 1984 houve comício das Diretas Já, com 100 mil pessoas diante da Catedral da Sé.
E aconteceram dezenas de comícios nas mais diversas capitais, onde participei de muitas. No Rio de Janeiro, 1 milhão de pessoas se concentraram na Candelária e 1 milhão de pessoas, em 21 de abril de 1984, no Vale do Anhangabaú. Infelizmente, pela falta de 22 deputados federais, que não tivemos o número de deputados federais necessários para aprovação da Emenda Dante de Oliveira, que estabeleceria eleições livres, diretas. Mas isso veio a acontecer com a Constituinte de 1988 que definiu, e a partir de 1989 tivemos eleições livres e diretas para presidente, governador, prefeito, em todos os níveis.
Em 1982, 1983 e 1984 dediquei-me a investigação sobre o caso Coroa Brastel, até publiquei o livro “Investigando o Caso Coroa Brastel”, com todas as arguições que fiz na Câmara dos Deputados, daqueles episódios.
Em 1985, o PT me indicou para ser candidato a prefeito, e tive 20%. Em 1986, me indicaram candidato a governador, quando Orestes Quércia venceu.
Então, não eleito, voltei para Fundação Getúlio Vargas, em tempo integral e dediquei-me a fazer pesquisa da distribuição da renda e dos direitos a cidadania e fui entrevistar alguns dos principais empresários, como Antônio Ermírio de Moraes, etc.
Em 1988, o PT me pediu que fosse candidato a vereador, para ajudar a eleição de Luiza Erundina e, aceitei, tive 201 mil votos. E também eleito presidente da Câmara Municipal. Quando chegou 1990, o Lula e o PT me disseram Eduardo você está muito bem na opinião pública, que tal você ser o nosso candidato a Senador. Aceitei e fui o primeiro senador eleito pelo PT, em 1990.
Em 1992, o PT achou que o Paulo Maluf estava muito forte e me pediram que fosse candidato a prefeito. Novamente candidato, fui para o segundo turno, mas Paulo Maluf venceu e continuei Senador. E fui novamente sendo reeleito. Em 2006, 8,8 milhões de votos, no Estado de São Paulo.
- FOLHA -Em 2014, o PT obteve um resultado favorável nas eleições presidenciais, com a reeleição da presidente Dilma Rousseff, mas, perdeu 18 cadeiras na Câmara Federal e 2 no Senado. Como o sr. avalia aquele momento?
SUPLICY- Em 2014, houve uma espécie de tsunami no PT, em São Paulo. Enquanto a presidente Dilma Rousseff teve 70%, 80% dos votos nos estados do Nordeste e do Norte, aqui em São Paulo, só teve 25%, eu consegui 32,5%, com 6,6 milhões de votos, mas, não fui eleito. Então, eis que o prefeito Fernando Haddad, dois dias depois do término do meu mandato, com 24 anos no Senado, me convidou e me tornei Secretário de Direitos Humanos e da Cidadania de São Paulo. Então, abracei está causa com muita vontade e determinação e quando chegou março de 2016, conversei com o Haddad, se ele preferiria que continuasse na secretaria ou me candidatasse a vereador, para ajudá-lo. Então, ele e o PT acharam por bem que fosse candidato a vereador. Obtive 301.446 votos, a maior votação na história de São Paulo e do Brasil pra um vereador. Esses meus eleitores, por onde ando e mesmo fora da cidade de São Paulo, o apelo que me fazem, e também nos comentários do Facebook, queremos que você volte pro Senado. Então, percebendo isso, aceitei, quando, em março último, o PT disse a mim, seja nosso candidato ao Senado.
- FOLHA- O sr. acredita que Lula será o candidato do PT, para a eleição presidencial?
SUPLICY- O presidente Lula saiu de seus dois mandatos com 80% de aceitação e hoje ele é aquela pessoa que está liderando as pesquisas de opinião, seja no primeiro turno, seja no 2º turno, com qualquer que seja o adversário. A convicção que nós do PT temos é que o presidente Lula merece ter a oportunidade de ser efetivamente, não de maneira parcial, e espero que perante os tribunais superiores, seja o Tribunal Superior Eleitoral, o Superior Tribunal de Justiça, e, em especial ao Supremo Tribunal Federal, que lhe deem a oportunidade de comprovar que ele não cometeu qualquer crime, muito menos de enriquecimento ilícito, inclusive porque não há provas concretas, reconhecido até pelo juiz Sergio Moro, que houve enriquecimento da parte de dele. São pré-suposições que levaram o juiz Sergio Moro a condenar o presidente Lula e por isso, nós estamos confiantes que as autoridades da Justiça terão a sensibilidade para prever, assegurar ao povo brasileiro, que, para que haja total legitimidade nas eleições, é necessário que se dê ao presidente Lula o direito de ser candidato e do povo brasileiro escolher diante das demais alternativas, se querem ou não o presidente Lula.