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Dick Farney – pianista de jazz e cantor

Nos anos 1940, nossa juventude, principalmente dos grandes centros urbanos, estava envolvida pelo som fascinante das “big bands” e pelas vozes românticas dos cantores que eram ouvidos no rádio e vistos no cinema como Bing Crosby, Perry Como, Dick Haymes, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Billie Holiday, entre outros mais. No Brasil, o jovem carioca Farnésio Dutra e Silva, oriundo de família abastada e nascido a 14 de novembro de 1921, desde cedo teve ensinamentos de música clássica, ouvindo e interpretando os grandes compositores eruditos Bach, Beethoven e Mozart, até o dia em que seus ouvidos captaram os sons da então música de vanguarda da América do Norte, muito bem alicerçada nas raízes do jazz.

   No contato com esse som, resolveu estudar jazz pianístico, escondido da família que o queria concertista clássico. Para custear os estudos, apresentava-se ao piano no Hotel Copacabana Palace, sem o conhecimento dos pais, a partir dos 15 anos de idade, isso em 1936. Aos poucos, o jovem Farnésio se convenceu da forte inclinação para a música popular norte-americana, entregando-se a ela de maneira total e adotando o nome artístico de Dick Farney.

   Em 1939, Dick ingressou no grupo musical “Swing Maníacos”, com ele ao piano, o irmão Cyl (Cilênio), à bateria e ao violão-tenor Hélio Beltrão que, mais tarde tornar-se-ia ministro do planejamento do governo federal. Na época, gravaram um disco de 78 rotações, acompanhando o então famoso gaitista Edu. Na primeira metade dos anos 1940, foi pianista e “crooner” de conjuntos musicais e orquestras. O primeiro registro fonográfico aconteceu em julho de 1944, cantando com a orquestra de Ferreira Filho, o clássico tema “The Music Stoped”, “A música parou), composição de Jimmy Mc Hugh e Harold Adamson, que apareceu na película “A Lua A Seu Alcance”, com presença do cantor Frank Sinatra. Na mesma época, gravou “What´s New?”(Quais as novidades?), composição de Bob Haggart e Johnny Burke, como “crooner” da orquestra Milionários do Ritmo.

   Ainda como “crooner”, de 1941 a 1944, participou da orquestra de Carlos Machado o rei da noite, no Cassino da Urca, no tempo em que o jogo era permitido no Brasil. Em 1946, foi convidado para ir à América do Norte, depois de um encontro com o arranjador Bill Hichcock e o pianista e bandleader Eddie Duchin, no Hotel Copacabana Palace. Nesse período, gravou o famoso tema jazzístico “Tenderly”, composto por Jack Lawrence e Walter Gross, considerado a primeira gravação mundial.  Nesse mesmo ano de 1946, antes de seguir para a América do Norte, realiza o sonho de gravar um disco, o primeiro de sua carreira solo, lançado pela etiqueta Continental, tendo apenas seu nome como intérprete. Nesse registro, está acompanhado pela orquestra de Eduardo Patané. No lado A-Copacabana, no B-Barqueiro de São Francisco.

   Entre 1947 e 1948, após embarcar para a América do Norte, fez gravações e apareceu em vários programas de rádio transmitidos pela rede NBC (National Broadcasting Company), no programa do comediante Milton Berle. Aqueles que duvidavam do sucesso de Dick na América, tomaram conhecimento através de gravações “ao vivo” dos programas que eram transmitidos pelas emissoras do Rio de Janeiro, com os “V-discs” trazidos pelo pai do cantor.

   Antes de partir, Dick havia gravado na etiqueta Continental diversos discos que, aos poucos, foram colocados à venda, tais como: “Ela Foi Embora”, “Ser Ou Não Ser”, “ Meu Rio de Janeiro”, “Esquece” e “Sempre Teu”. Terminado o contrato, retorna ao Brasil como ídolo consagrado, com seus discos vendendo aos milhares e shows na famosa boate Vogue na Rio de Janeiro.

   Além de cantor e pianista de jazz, Dick Farney foi “bandleader”, organizando sua própria big band nos moldes das norte-americanas da era do swing, entre 1960 e 1962 em São Paulo, cidade que adotou para morar até sua morte. Durante a existência da orquestra, animou os mais tradicionais eventos, marcando presença em bailes de formatura e aniversários em tradicionais clubes paulistas. O último show “ao vivo” de Dick Farney e seu trio, aconteceu na casa de espetáculos “Inverno e Verão”. Dick ao piano, Toninho Pinheiro à bateria e o grande Sabá (Sebastião Oliveira da Paz) ao contrabaixo, no início de setembro de 1987, pouco antes de falecer, aos 65 anos de idade. Dick Farney, um pianista de jazz e cantor de grande classe.