No Brasil, o ódio parece ter transposto todas as barreiras possíveis e imagináveis. Os episódios ocorridos no país, nos últimos dias, comprovam isso.
Em Brasília, um homem detonou explosivos, um deles em direção à estátua da Justiça, e morreu em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em suas páginas nas redes sociais foram encontradas mensagens como: “Onde está o grande problema? No Judiciário (STF)”.
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou que “grupos extremistas estão ativos” e que o episódio “não é fato isolado” e está “conectado com várias outras ações que a PF tem investigado no período recente”.
No Rio de Janeiro, a primeira-dama do Brasil, Rosângela da Silva, a Janja, enquanto participava de atividades relacionadas ao G-20, xingou o empresário bilionário Elon Musk, nomeado pelo presidente eleito Donald Trump para liderar o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE): “Não tenho medo de você. Fuck you Elon Musk”, que numa tradução literal seria “vai se foder Elon Musk”. Horas depois, Musk escreveu no X (antigo Twitter): “Eles vão perder as eleições em breve”.
Após, o presidente Lula fez uma declaração apaziguadora sem citar nomes, mas a fala foi relacionada à troca de ofensas entre Janja e Musk, ao afirmar: “Esta é uma campanha que a gente não tem que ofender ninguém, não temos que xingar ninguém. A gente tem que só indignar a sociedade”, disse.
Além disso, a operação da Polícia Federal revelou um suposto plano para assassinar Luiz Inácio Lula da Silva, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes e dar um golpe de Estado no Brasil em 2022. Cinco suspeitos foram presos.
De acordo com a investigação, o plano foi elaborado pelo general da reserva e integrante dos “kids pretos” Mario Fernandes. O militar atuou como secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República na gestão Jair Bolsonaro (PL) e, posteriormente, foi assessor do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, eleito deputado federal em 2022.
Todos esses episódios são lastimáveis e frutos do ódio. No caso do homem que detonou artefatos explosivos, ódio ao Supremo Tribunal Federal, ao ministro Alexandre de Moraes; no episódio de Janja, a primeira-dama do Brasil poderia ter feito inúmeras críticas ao empresário Elon Musk, se posicionar contra ações dele, mas sem xingá-lo. Nem a primeira-dama de um país, nem qualquer figura pública nacional pode utilizar a linguagem obscena e grosseira dos palavrões. Autoridades devem dar exemplo de boa conduta e postura, ainda mais em ambiente público.
No caso do plano de assassinato ao presidente Lula, ao vice, Alckmin, e ao ministro Alexandre de Moraes, a situação é ainda mais grave. O nível de ódio por motivação política passou todos os limites. Ainda assim, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse que “pensar em matar alguém não é crime”. Então, por não ser crime, não há problema? A que ponto chegou o Brasil?
O poder das palavras não está apenas no que é dito, mas no impacto e nas consequências que causam. No Brasil, o discurso de ódio, que já divide o país desde 2018, está tão presente nas redes sociais, alimentando o medo a e a polarização. É usado, intencionalmente, para ganhos políticos, porém, com um custo imenso para a sociedade. Incitar a violência, por meio de palavras, acentua as tensões e impede os esforços para a mediação e o diálogo.
Os sinais de alerta que o ódio irá acabar com Brasil, em todos os sentidos, já foram emitidos, faz tempo. Mas, nada é feito, seja pelos que propagam o ódio, seja pelos que se dizem contra ele.
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