Política

Regina Maura: “São Caetano é a melhor cidade do país para se viver”

Regina Maura: pré-candidata a vice-prefeita

Regina Maura Zetone Grespan conhece a Saúde de São Caetano como a palma da mão. Esteve no comando da secretaria por mais de 15 anos. Ao longo deste período, enfrentou desafios de edificar a Saúde da cidade, que contava apenas com um Pronto-Socorro quando assumiu e um hospital infantil e, hoje, possui cinco hospitais, vários centros de especialidades, 12 Unidades Básicas de Saúde, entre outros. Também enfrentou e superou, com bastante êxito, a pandemia de Covid-19, fazendo São Caetano ser destaque nacional com as ações desenvolvidas. Agora, como pré-candidata a vice-prefeita, conta como pretende manter os níveis de qualidade da cidade e revela alguns projetos que poderão ser implantados. Confira.

Folha do ABC- A sra. iniciou a vida pública em 2001, na Secretaria da Saúde de São Caetano, acumulando mais de 15 anos de atuação na Saúde. Qual o comparativo sobre a situação da Saúde de São Caetano, quando assumiu como secretária e hoje, com a atual situação?

Regina Maura Zetone Grespan- Iniciamos, praticamente, com o início do SUS, na secretaria, eu e o prefeito Auricchio, enquanto secretário de Saúde. Depois, quando ele foi para prefeito, assumi como secretária, mas era um embrião de um sistema de saúde. Na verdade, tínhamos que buscar serviços que atendessem o SUS recém-criado, porque deixou deexistir aquele convênio com a Beneficência Portuguesa, com a Santa Casa, os hospitais que atendiam o SUS. Tínhamos só o Pronto-Socorro, que atendia, na verdade, quem era morador de rua. Quando a Beneficência deixou de atender, precisamos reinventar o Pronto-Socorro, que era pequeno, na Rua Peri, com a Vital Brasil. E tinha o Hospital Márcia Braido que atendia só crianças.

Então, fomos evoluindo a ponto de transformar o pronto-socorro, que era pequeno, numa enfermaria de clínica médica. Criamos uma maternidade dentro do hospital infantil e alguns leitos de clínica médica e assim foi crescendo até que foi construído o hospital Maria Braido, que acabou promovendo uma ampliação do sistema, depois veio o Pronto-Socorro Municipal, que é o Hospital Municipal de Emergências Albert Sabin, na verdade, para atender as emergências. Foi construído o Hospital Euryclides de Jesus Zerbini e, de modo que o sistema incipiente, que tinha só um pequeno pronto-socorro, passou a ter cinco hospitais.

Onde era o pronto-socorro se tornou um Hospital de Olhos, um Centro de Oncologia e mais três hospitais no Complexo Hospitalar e o Sabin. Também, com a reforma em 2017, fizemos a UPA também.

Na questão da atenção básica, era também, só tínhamos quatro, eram postos de puericultura, não eram Unidades Básicas de Saúde. Foi com o governo Auricchio, na minha gestão na Saúde, fomos construindo outras Unidades de Saúde da Atenção Básica, de modo que, hoje, temos 12, vamos para 15 Unidades Básicas de Saúde e os Centros de Especialidades, todos. Então, paulatinamente, fomos criando os centros de especialidades, o CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher), a Unidade de Saúde da Criança e Adolescente, para atender as crianças, temos três CAPS já, o CAPS adulto, o de álcool e drogas e o infantil.

Enfim, toda a Atenção Especializada, que é um equipamento de saúde ímpar. Dificilmente acharemos, na área pública, um equipamento que tenha todo o centro de diagnóstico de imagem, diagnóstico cardiológico, farmácia 24 horas, atendimento de fisioterapia também, enfim, um centro bem completo de média complexidade, complementar ao complexo de saúde municipal.

Então, esse crescimento foi paulatino e ele não terminou. Há essa construção do sistema de saúde. Ainda temos a inaugurar o Pronto Cardio, que é um pronto-socorro cardiológico, que vai ter cardiologia intervencionista, cateterismo, alguns exames de angiografia cerebral também. Ampliamos o Pronto-Socorro Municipal que logo deve ser entregue, e o Complexo da Pessoa com Deficiência, que vai ser um complexo, um equipamento de saúde tão grandioso quanto o Atende Fácil Saúde, que vai dar o atendimento das pessoas com deficiência de forma integral, tanto o diagnóstico de doenças raras, das patologias que causam deficiência, como o tratamento e a reabilitação dessas pessoas. Mesmo aquelas que não têm condição de cura, mas que a reabilitação possa deixá-las de uma forma de convivência na sociedade.

Enfim, é um sistema complexo já, porque na alta complexidade atingimos quase a autossuficiência e que ele tem pontos a serem ainda, esse sistema ainda pode ser melhorado.

Folha- Caso a senhora seja eleita, na chapa com o pré-candidato Tite Campanella a prefeito, o que ainda falta realizar na Saúde de São Caetano?

Regina Maura- Vamos manter o que já tem, que é muito difícil, porque precisamos ter um controle orçamentário bem importantepara poder dar continuidade ao que já tem e melhorar aquilo que precisa ser melhorado. Ou seja, a melhoria do atendimento nunca se encerra, porque sempre tem alguma coisa a mais a ser feita, sempre tem pessoas novas que vão adentrando ao sistema, ou porque deixaram de ter plano de saúde, ou porque os planos de saúde cortaram muitas pessoasque eram usuários crônicos do sistema privado de saúde, ou porque perderam o emprego, não têm condição de pagar um tratamento ou outro. Então, foi um fluxo grande.

Além do que as pessoas, após a pandemia, aprenderam ou começaram a acreditar no SUS, acharam, porque mesmo quem não era usuário, pessoas que têm mais condição financeira, passou a ser usuário do SUS também, porque acredita no sistema, porque viu a competência que teve para vencer a pandemia e acabou vindo de forma espontânea. Muita gente que tem convênio e que tem demora no atendimento ou que tem negativas no atendimento de convênio busca o SUS. Hoje, falamos até que o SUS tem sido suplementar ao sistema de saúde suplementar.

Folha- E a senhora avalia que é difícil melhorar o que já está bom?

Regina Maura- É difícil, porque o financiamento sempre é escasso. Sempre falta dinheiro para a área da saúde porque as demandas são crescentes. As demandas dos pacientes, as demandas por novos tratamentos modernos, novos equipamentos, equipamentos mais modernos, novas terapias que são inseridas e que as pessoas, ou por demanda judicial ou mesmo por necessidade, temos que incorporar novas tecnologias, isso é custoso. Então, é um sistema dinâmico, ele sempre tem que ser aprimorado, sempre tem que ser melhorado. O mais difícil é a questão do financiamento mesmo e tem a inflação hospitalar. Se a inflação no alimento é x, a inflação na saúde é 4x, 5x. Especialmente os medicamentos, medicamentos e materiais de uso hospitalar. Quanto mais existe o aprimoramento das técnicas, temos que usar equipamentos e materiais mais caros, mais especializados, às vezes que são importados. Então, a inflação nessa área é muito grande e muita coisa é baseada no dólar.

Folha- Durante todos esses anos, qual foi o maior desafio e, na sua avaliação, a maior conquista para a Saúde de São Caetano?

Regina Maura- Um grande desafio, que foi uma dificuldade duradoura, a pandemia de Covid-19, porque não foi uma coisa que apareceu como, agora, a dengue, que apareceu, teve esse boom de atendimento, de três meses, e era esperar o frio que a coisa iria acabar. A Covid não, a Covid permaneceu e permanece até hoje, só que as pessoas estão vacinadas, mais imunizadas. Mas o maior desafio foi a Covid.

Já a maior conquista que a gente enxerga, hoje, foi o Atende Fácil Saúde, que foi realmente uma estrutura completa, mas a cada serviço novo criado foi uma conquista. Então, o Hospital Maria Braido foi uma grande conquista. Depois, o Hospital Sabin foi uma outra grande conquista. Aí veio também o Zerbini, que é um hospital da mulher, com maternidade, com UTI infantil. E ter essas três UTIs num complexo só foi uma grande conquista, com UTI pediátrica, UTI neonatal e UTI adulto. E agora, por fim, foi o atendimento de saúde, que foi o prontuário eletrônico, foi extremamente desafiante, porque a construção estava no meio da pandemia. Então, teve várias interrupções, teve um atraso para conseguir ser concluído. Então, foi realmente uma conquista.

E a próxima conquista que vai extrapolar todas essas é realmente o Pronto Cardio, porque São Caetano é um município de idosos, onde a incidência de diabetes e hipertensão é alta e, portanto, a incidência de doenças cardiovasculares é muito alta. Então, um grande número de atendimento que a gente faz na saúde é justamente das doenças cardiovasculares. São os infartos, são os AVCs.

Ainda sobre os desafios, tivemos condição melhor de vencer a pandemia, porque conseguimos implantar a telemedicina durante a pandemia, tínhamos estrutura para isso, tínhamos equipamentos, conseguimos usar de uma forma muito vitoriosa a telemedicina, tanto que a gente recebeu o Prêmio de Atenção Primária APS Forte, que foi da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), da OMS (Organização Mundial de Saúde) e do Ministério da Saúde.

É um prêmio que a gente recebeu em 2021, mas foi em decorrência do trabalho em 2020 que começou com o Disque Coronavírus, o Corona São Caetano. E aí, a partir daí, a gente foi colocando as demais inovações tecnológicas, os sistemas de controle, de confirmação de consulta, exame, essas coisas, mas assim, tudo baseado em que existia já um prontuário eletrônico implantado. Municípios grandes que não conseguiram implantar ainda o prontuário eletrônico total, hospitalar e ambulatorial.

No combate ao coronavírus, só falando um pouco, São Caetano ganhou destaque nacional por todas as ações também. A vacinação com agendamento eletrônico foi por conta de termos um prontuário eletrônico, o agendamento da vacina, dos exames, os testes, a grande testagem que a gente fez, de uma forma organizada e rápida, foi exatamente por ter a tecnologia já implantada no município.

Folha- Em relação à pandemia ainda, como a sra. define a sua participação à frente de um desafio mundial, que ninguém sabia ao certo o que ia acontecer. A senhora em algum momento achou que fosse não fosse conseguir?

Regina Maura- Tive muito medo, eu fiquei muito assustada, porque, na verdade,era eu e o prefeito responsáveis pela vida de 165 mil pessoas no município, pelo que pudesse acontecer de bom ou de ruim. Você sempre acaba sendo responsabilizado. Então, as nossas atitudes tinham que ser muito bem pensadas, muito ponderadas e, felizmente, acertamos.

Folha- Como conseguiu conciliar tantos papéis de gestora pública Saúde, mãe, mulher e, agora, pré-candidata a vice-prefeita?

Regina Maura- Acho que sempre fui muito centralizadora. Sempre gostei de estar participando realmente, ativamente, lembro que para inaugurar, a primeira vez, o Hospital de Emergência, passamos a madrugada lavando o chão, para inaugurar no dia seguinte. Então, uma coisa que nunca me furtei é botar a mão na massa.Precisou, estamos lá. Mas, teve muitos momentos que achei que não fosse conseguir. O mais difícil foi, realmente, em 2004, quando assumi a Secretaria de Saúde e meu marido estava com câncer, já perto da morte. Então, assumi, acho que foi em março de 2004 e ele morreu em junho. Então, nesse período de março a junho, dormia no hospital com ele e de manhã vinha trabalhar.

Mas antes, passava em todas as unidades para ver se tinha a luz acesa, se estava acontecendo alguma coisa, porque era uma época de campanha política e os adversários estariam ali para plantar qualquer coisa ruim. Então, foi muito estressante e naquele ano também a gente recebeu uma auditoria muito rigorosa do Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus), da Auditoria Geral do SUS. Então, era o dia todo em cima de papéis, olhando tudo, fazendo demonstrações. Foi um período bem difícil de passar. Foi o mais difícil da minha vida, em termos de esgotamento físico mesmo, físico e psicológico.

Folha- Agora, a sra. é pré-candidata a vice-prefeita. Como tem enfrentado esse novo desafio?

Regina Maura- Tenho uma expectativa muito boa, acho que vou conseguir poder opinar e participar de outras pastas de uma forma ativa.Sempre participei de tudo da prefeitura, de toda a administração, para ter conhecimento, mas não para ter talvez uma ação, uma intervenção, que possa fazer alguma melhoria, que possa beneficiar as pessoas em outras áreas.Acho que vai ser bem legal. Estou bem animada com essa possibilidade.

Folha- Em relação ao Plano de Governo, que ainda não está finalizado, a prioridades será a área da saúde?

Regina Maura- Não vai ter uma prioridade exatamente da saúde, mas acho que a área social, vai ter do meu olhar, um olhar especial. Tanto a área social, como a educação, como a saúde. Acho que a mulher tem um olhar especial para a área social, um olhar mais materno, vamos dizer assim, de cuidado. Então, acho que essas áreas vão ser, talvez, mais da minha parte, mais observadas e talvez tenha mais intervenção da minha parte.

Folha- Na área da saúde, tem alguma coisa que a sra. gostaria de ter implementado no atual governo, que não foi possível e que poderia ser implantado? E em outras áreas?

Regina Maura- Acho que vamos chegar um dia a atingir, realmente, a autossuficiência na alta complexidade. Para isso, falta para nós só a neurocirurgia e a cirurgia ortopédica eletiva, as próteses, da área de internação cirúrgica. Então, não é só uma questãoorçamentária, mas também uma questão de ampliação do tamanho do complexo hospitalar. Ele terá que crescer para que a gente possa atingir essa autossuficiência.

A cidade está muito bem gerida, tem uma parte social muito boa, atendemos os moradores e os não moradores de uma forma bem empática, com os programas sociais. A questão do meio ambiente também teve um avanço bem importante. Acho que a gente precisa também ter um olhar bem focado também no meio ambiente, com a questão do lixo, do resíduo da construção civil. E na Educação, acho que a Educação em São Caetano também vai muito bem, mas é um grande desafio também para qualquer gestor, porque tudo está mudando demais, as pessoas, as crianças. A introdução da tela para as crianças pequenas, acho que tem sido uma causadora de grandes problemas e acho que isso tem que ser estudado e ser realizado alguma política pública para melhorar isso. O número de crianças com problemas de saúde mental está aumentando muito.

Folha- No aniversário dos 147 anos, qual presente a sra. gostaria de dar para a população?

Regina Maura- Acho que, tanto eu quanto o Tite Campanella, temos vontade de manter a qualidade da cidade, que já é a melhor do país para se viver. Queremos manter esse status de ser a melhor cidade para se viver e que cada vez ela melhore mais. Então, o nosso trabalho vai ser no intuito de melhorar, cada vez mais, a vida das pessoas em São Caetano, que a cidade proporcione uma vida melhor para todos.