O Sicredi irá celebrar 120 anos do cooperativismo de crédito no Brasil, no próximo dia 28 de dezembro. A data é marcada pela constituição da Caixa Rural, atual Sicredi Pioneira, na comunidade de Linha Imperial, em 1902, em Nova Petrópolis RS), e marca, também, o início do cooperativismo de crédito no Brasil, a partir da iniciativa do Padre Theodor Amstad.
A Folha do ABC, a convite do Sicredi Vale do Piquiri Abcd PR/SP, participou do 9º Encontro Nacional de Jornalistas e Formadores de Opinião, em Porto Alegre (RS). Na ocasião, Tiago Luiz Schmidt, presidente da Sicredi Pioneira, primeira instituição financeira cooperativa da América, falou sobre o objetivo da fundação da cooperativa.
“A cooperativa nasce com o propósito de unir capital e trabalho. O objetivo não era ter retorno sobre patrimônio, participação de mercado, liquidez, gestão de riscos, o objetivo era de que forma, coletivamente, podemos nos reunir e pegar o dinheiro de quem tem recursos financeiros e não tem o que o fazer com esses recursos em uma região que é extremamente pobre e abandonada. Pessoas que tinham terras e sementes, muitas vezes, não tinham dinheiro para comprar ferramentas, ou tinham terras e ferramentas e não tinham recursos para comprar sementes”, explicou.
De acordo com o presidente, todo o resultado gerado pela cooperativa na época era investido na comunidade. “Abrindo estradas, construindo pontes, escolas, hospitais, puxando linhas telefônicas. Então, esta atuação social ela vem de berço com a cooperativa. É por isso que falamos que os resultados íntegros são aqueles que em uma cooperativa geram impactos econômicos e sociais”, afirmou.
Schmidt também revelou números atuais que apontam a relevância da cooperativa no cenário nacional. “Contamos com 265 mil associados, mais de R$ 10,3 bilhões de depósitos, R$ 5,2 bilhões em crédito e mais de R$ 970 milhões em patrimônio líquido. Estamos presentes em 21 municípios, com 53 agências e 970 colaboradores”, contou. “O fato de termos uma cooperativa em cada região do país faz com que a gente consiga ter essa atuação. Em Caxias, Novo Hamburgo e São Leopoldo, que têm 1 milhão de habitantes, nestes municípios temos 115 mil sócios, os outros 150 mil estão espalhados em 18 municípios com 200 mil habitantes, ou seja, 75% da população destes municípios são sócios do Sicredi na região”, contou.
Segundo o presidente, há sócios de diferentes faixas etárias. “São sócios de todas as idades, temos vários associados com 70, 80 anos de associação e temos uma cultura que quando o sócio completa 50 anos de sociedade fazemos um diploma de honra, com letras douradas, entregamos um presente”, disse.
IMPACTO NO EMPREENDEDORISMO
O presidente ainda mencionou à Folha sobre o impacto das cooperativas de crédito no fomento de empresas. “Onde existem cooperativas de crédito há mais constituições de empresas e empreendedores. Entende-se por dois motivos. Como as cooperativas são locais, das comunidades, elas conhecem a região e as pessoas e as cooperativas acabam se sentindo muito mais seguras na hora da concessão do crédito. Retração de crédito vai na contramão do empreendedorismo. Muitas vezes as pessoas têm a ideia, tem o desejo de empreender, mas não têm acesso ao crédito e as cooperativas cumprem esse papel por serem da região e conhecerem a região, estimularem o empreendedorismo”, detalhou. “Da mesma forma que digo que não existe cooperativa rica em uma sociedade pobre, digo que não existe cooperativa viva, com associados falidos. O papel da cooperativa é sempre estimular a manutenção ou abertura de empresas na nossa região”, completou.
COOPERATIVISMO NO MUNDO E NO BRASIL
Feulga Abreu dos Reis, analista de Relações Institucionais da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) revelou que há mais de 3 milhões de cooperativas em todo o mundo. “As 300 maiores cooperativas do mundo tiveram um faturamento combinado de US$ 2,18 trilhões em 2019, um aumento de US$ 2,14 trilhões em 2018. Já são mais de 1 bilhão cooperados no mundo, ou seja, cerca de 12% da população mundial, e 280 milhões de empregos gerados”, disse. A analista contou que se as 300 maiores cooperativas fossem um país, elas seriam a 9ª maior economia do mundo.
Feulga também disse que o cooperativismo não envolve apenas o agronegócio, apesar dele corresponder a 53% da produção de grãos no país, por exemplo. “O cooperativismo não é só o agro, apesar de falarmos muito nele. O cooperativismo no Brasil representa 53% da produção de grãos no país. E estamos falando de marcas como Aurora, Copacol, por exemplo”, contou.
De acordo com a analista, são 4,5 mil cooperativas no Brasil, mais de 23,4 milhões de cooperados no país (11% da população brasileira), que movimentam R$ 692 bilhões (somando todas as cooperativas brasileiras) e gerando 550 mil empregos diretos, com R$ 1,6 trilhão de ativos no último exercício.
CRÉDITO AOS EMPREENDEDORES
Relatório do Conselho Mundial das Cooperativas de Crédito (World Council of Credit Unions- WOCCU) de 2022 apontou dados impactantes das cooperativas na concessão de crédito aos empreendedores. “Cerca de 30% do crédito ao micro e pequeno empreendedor é de uma cooperativa de crédito e de todo o sistema financeiro nacional quem investe e patrocina o micro e pequeno empreendedor é uma cooperativa de crédito, porque é um público que não tem garantias tão boas quanto um grande empresário, mas a cooperativa está ali para fomentar aquela comunidade e melhorar os associados e a partir do fomento do associado, também crescer nos seus negócios”, destacou Feulga.
As cooperativas de crédito estão presentes e atuantes em 98 países e em todos os continentes. São 403.976.049 de associados (Brasil: 33,8% da América Latina e 4,2% do total mundial), o que representa um crescimento de 3% em relação a 2021 e mais de 100% em uma década, de acordo com dados do WOCCU. No Brasil, a presença das cooperativas atinge cerca de 57% dos municípios brasileiros, com 17,3 milhões de associados, sendo 14,7 milhões de pessoas físicas (PPs) e 2,7 milhões de empresas (PJs).
Cerca de 7,2% da população brasileira está associada a pelo menos uma cooperativa de crédito. A região Sul apresentava o maior percentual de associação entre sua população (23,7%), além de concentrar a maior parcela dos cooperados (48,2%) e PJ (39,8%) do país, seguida pelo Sudeste; R$730,9 bilhões em ativos, R$ 581,6 bilhões em captações, além de R$ 445,8 bilhões em operações de crédito, segundo informações do Banco Central sobre Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC) de 2023.
“Para cada R$ 1 milhão em crédito, temos um adicional de 22.8 empregos. Isso já é um argumento super importante pela representação do sistema de crédito na economia brasileira e cerca de R$ 52 milhões foi a média ano a ano, dos últimos cinco anos de análise e esse valor se traduz para Pessoas Físicas e Jurídicas nestes impactos agregados para todas as variáveis de interesse”, disse o analista de estudos econômicos da OCB, Arthur Nery.
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