07 May 2024


A herança que meu pai nos deixou... (III)

Publicado em DIVANIR BELLINGHAUSEN
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Com dinheiro papel, ele juntava um bolo com as notas de menor valor, e quando assistíamos a TV, ele as jogava para o alto na sala, gritando:
-“Aleluia... Aleluia”... era uma farra!
Ele não gostava de ver os pássaros presos. Desde que se casou, sempre teve grandes viveiros para que as aves voassem livres. Quando fomos morar na casa da Rua João Pessoa construiu um viveiro do tamanho de uma casa. Alto como um sobrado. Ele tinha, como se fossem uma sala e três quartos, com comunicação para a parte mais alta (a sala). Nesses quartos, ficavam os pequenos pássaros, com seus ninhos. Eram canários, bicos-de-lacre, saíras, azulões, tiês-fogo, corrupiões, cardeais, periquitos australianos, enfim, não me recordo dos nomes de tantos pássaros. Na parte maior do viveiro, ficavam as aves maiores, nhambus, mutuns, araras, tucanos, pica-paus, saracuras, maritacas, pombinhas... e todas as aves que ele encontrava em seu caminho. Onde existem aves existem grãos e consequentemente os ratos. Quando meu pai começava a encontrar os buracos no solo, nos convocava com paus e vassouras, nos colocava ao lado das tocas e com uma mangueira, enchia um dos buracos com água. Essas tocas tinham comunicação sob a terra. Quando os bichinhos fugiam da inundação, fazíamos a maior farra deixando-os atordoados com nossas armas, pegando-os pelos rabos e jogando-os em um balde com água. Cabia a meu pai depois eliminá-los. Para nós, era uma diversão. Hoje, todos nós atacamos o bichinho, se por acaso estiverem em nosso caminho.
Costumava pegar uma vara de bambu, e com suas mãos fazia uma escada para nós subirmos o mais alto que ele alcançava, ai, prendíamos a vara com os joelhos, abríamos os braços, e nos sentíamos os maiores ginastas.
Em 1960, construiu uma nova casa na praia de Itanhaém. Ensinou-nos a andar pelas pedras, atravessando o costão, a pegar os siris com as mãos, a comer as ostras diretamente das pedras. Para isso, levávamos martelos, faca, limões e vinho branco, passando a garrafa de boca em boca.
Em nossa cidade, eram famosas as “Histórias do Alberto”, contos sobre as viagens, pescarias e caçadas que ele fazia com os amigos. Com a família, ia geralmente para a praia, pois era uma mão de obra, com o número de filhos e a nossa diferença de idade viajar e ficar em hotéis. Quando minha mãe carregava o carro para ir para a praia, levava até a máquina de costura portátil e a harmônica. Ele então dizia:
- Falta o piano!
Gostava muito de cozinhar. Foi um mestre cuca excelente! Passou esse prazer para o filho e filhas. Nas sextas feiras era dia de fazer pastéis. Ele e mamãe faziam a massa. Todos os filhos ajudavam nos recheios: queijo, carne, camarão, palmito, frango, goiabada, banana. Dividíamos-nos, recheando, cortando, fritando e comendo. Acompanhados no início por uma caipirinha e depois por cerveja ou vinho. (Continua)

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