Na quarta (25), de setembro, como faz mensalmente, o Centro de Memória, da Secretaria de Cultura e Juventude, da Prefeitura de São Bernardo, realizou mais um encontro de Conversas de Memória. Dando continuidade à proposta abordada no mês anterior, referente à comunicação, as conversas e memórias tiveram por tema motivador “os meios de comunicação: rádio e televisão”.
Como esses meios de comunicação impactaram nosso cotidiano ao chegarem às nossas casas? Mudaram rotinas, costumes? Quais programas marcaram nossas vidas?
Nas memórias dos participantes, o Rádio destacou-se como presença muito forte no dia a dia das famílias, tanto em tempos que antecederam a TV, quanto posteriores, chegando aos dias atuais.
As lembranças mais antigas voltaram-se para as décadas iniciais do Rádio no Brasil, quando a aquisição do aparelho não era algo acessível a todos; era muito comum a prática de vizinhos e amigos se reunirem na casa de quem possuísse um aparelho de rádio. Efetivamente era um elemento agregador…
Houve até mesmo um tempo, na época do Governo Getúlio Vargas, que era necessário que os proprietários fizessem o registro do aparelho de rádio e pagassem uma taxa anual.
Não poderia deixar de ser lembrado, com saudades, o amigo que frequentou por muitos os encontros de Conversas de Memória, João Gava, que foi pioneiro na venda de aparelhos de rádio em São Bernardo.
Nomes que se apresentavam ou tinham programas nas grandes Rádios (Rádio Nacional, Mayrink Veiga…), que povoaram o cotidiano e o imaginário de outrora foram lembrados: Ary Barroso, Paulo Gracindo, César Ladeira, Vicente Leporace (o Trabuco), Manoel de Nóbrega, Pedro Geraldo Costa, Zé Béttio (sertanejo), Fiori Gigliotti (narração esportiva)… E, também, cantores e cantoras, como Emilinha Borba, Marlene e outras, denominadas “Rainhas do Rádio”.
Era grande a audiência da programação das Rádios, como radionovelas, programas que sorteavam prêmios, transmissão de futebol, religiosos, jornalísticos, musicais… No programa de Pedro Geraldo Costa havia o momento da benção do Padre Donizetti. Inclusive, era recomendado que se colocasse um copo com água junto ao rádio para que esta ficasse benta.
No âmbito local, a grande referência na memória de todos é a Rádio Independência, a primeira de São Bernardo. Situada no centro da cidade, primeiramente próximo à Praça Lauro Gomes e depois junto à Praça Santa Filomena, tendo a torre de transmissão no Demarchi, foi lembrado até mesmo o seu prefixo: ZYW-5. Tinha variados programas: musicais, noticiários, esportivos, variedades, programa de auditório, calouros etc. Dalton Sobrinho, Rolando Marques e Tércio Nelli, foram locutores/apresentadores lembrados.
Na década de 1950, com a implantação da TV no Brasil, muitos desses programas e artistas de Rádio migraram para a TV, especialmente os musicais e programas de auditório.
Nos anos iniciais, os aparelhos de TV tinham custo elevado e as transmissões eram difíceis. Foi lembrado com certa nostalgia que as famílias que podiam, compravam a prazo o aparelho de TV. Assim como o Rádio em seu início, a TV reunia amigos e vizinhos nas casas daqueles que a possuíam. As transmissões eram ruins, com muitos chuviscos, demandando muita paciência, inclusive para o posicionamento da antena externa (necessitava que uma pessoa ficasse em cima da casa, girando a antena até encontrar uma posição que melhor captasse os sinais, enquanto o outro ficava junto a TV verificando e orientando aquele que estava no telhado).
Como apenas nos anos de 1970 chegou a TV em cores, o jeito era a colocação de uma tela colorida sobre a o monitor.
E os programas eram todos ao vivo, até mesmo as propagandas! Isto dava margem a falhas e erros impossíveis de correção… Essa lembrança provocou muitas risadas entre os presentes…
Os programas de auditório, a apresentação de artistas, cantores/as – até então só conhecidos por fotografias – e as novelas, foram ocupando grande parte do espaço onde outrora o Rádio reinara absoluto…
A gravação da novela Redenção, no espaço onde hoje está a Cidade da Criança, em São Bernardo, aproximou ainda mais a TV da vida dos são-bernardenses e, inclusive, desmistificou um pouco o imaginário acerca do que seriam os bastidores da TV.
Tanto o Rádio, quanto a TV, com seus programas, novelas, seriados etc. criavam – e ainda criam – público seguidor, que aguardava ansiosamente por cada episódio/apresentação, sendo que estes eram também temas das conversas cotidianas nas famílias, rodas de amigos, bares, salões de beleza etc.
Das memórias de tempos distantes, das memórias de tempos não tão distantes ou, mesmo, das memórias bem atuais, com toda a diversificação de meios de comunicação de massa que temos hoje, o Rádio e a TV, com seus personagens e programas, ainda são presenças fortes em nosso cotidiano e nas memórias construídas e a serem construídas…
Jorge Magyar
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