26 Apr 2024


A herança que meu pai nos deixou... (IV)

Publicado em DIVANIR BELLINGHAUSEN
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Na véspera da Páscoa, íamos pela mata com sacolas, pegar flores da quaresma. Fazíamos verdadeiras tocas de coelhos. Na madrugada seguinte, íamos espiar se o coelho já havia chegado: marzipãs em formato de frutas e animais, ovos enormes de chocolate, e os ovos de galinha, cozidos, tingidos e pintados por nossos pais.
Nas festas juninas, com meu irmão nascido no dia de S. João, começávamos a fazer os balões em maio: formato de cruz mexerica, charuto, bandeira brasileira, etc. Fazíamos mais de 50. Chegava junho. Chegavam os engradados da “Casa da China” de S. Paulo. Era um mês de festa, com fogueiras, minha mãe na sanfona, quadrilhas e todos os quitutes relacionados com o evento. Meu pai foi um grande fogueteiro!
Nossos aniversários eram comemorados com festas e bailes, onde os jovens encontravam seus pares com a ajuda dos “cotions”. Passávamos semanas preparando com a mãe nos ajudando a encontrar os “temas”. Depois preparávamos os comes e bebes. Tudo era feito em casa. O papai então ficava preocupado com a turma que invadia a casa, todos amigos, mas... Jovens! Ele tinha os olhos meio caídos. Quando chegava meia-noite, ele cortava dois palitos de fósforo pela metade, e os colocava nas pálpebras abrindo bem os olhos. Pegava um relógio grande no aparador, adiantava-o umas duas horas, e andava pela sala em meio aos convidados, duro como uma estátua, como se dissesse:
-Olha à hora!
Não gostava de carnaval de salão, aliás, detestava. Íamos para a Praia Grande nesses dias, e seguíamos até S.Vicente para ver o desfile dos carros, e então ele ia no nosso meio, sentado no capô, vestido com as roupas da mamãe, jogando serpentinas, confetes e lança-perfume.
Certa vez, na praia de Itanhaém, ainda com ruas de areia, a mamãe estava no terraço, e disse:- Olha uma mulher com um vestido igual ao meu! A mulher, com um chapéu na cabeça, passava do outro lado da rua. Vocês adivinharam quem era?
Quanto ao comer, era desde bucho ou mocotó, até tatu ou jacaré. Lembro que eu não gostava muito de legumes e verduras. Meu pai dizia: - Aprenda a comer de tudo, pois se um dia você enfrentar uma guerra, terá de comer até as raízes que encontrar sob a terra. Eu aprendi!
Até hoje, fico indecisa se passo por um portão ou encurto um caminho pulando um muro. Quando subo em uma goiabeira para apanhar os frutos, lembro de suas palavras:
- Para que machucar a goiaba quando podemos colhê-la com nossas mãos? (isso foi no passado....agora não mais)
Essas lições de vida marcaram toda minha caminhada por esta terra, e acredito de meus irmãos.
Somos vencedores em todas as situações que a vida nos apresenta, pela herança, a maior que meu pai nos deixou: a alegria, a coragem, o amor à vida.
Um abraço, Didi

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