06 May 2024

Publicado em DIVANIR BELLINGHAUSEN
Lido 550 vezes
Avalie este item
(0 votos)

Recordando uma crônica que escrevi há alguns anos, quando pela segunda vez fui convidada pela Escola Terra Mater para conversar com as crianças com nove anos, das classes da manhã e da tarde, para contar como era São Bernardo nos meus tempos de criança e juventude.
Mal entrei já quiseram saber o meu nome. Ante a minha resposta que meu nome era um palavrão e ao ver seus olhinhos arregalados, falei que era um palavrão... uma grande palavra: Divanir Bellinghausen (com aquela pronuncia alemã) Coppini. Assim, eles iriam me tratar por Didi. Ante o: Nosssaaa...E perguntarem sobre minha descendência, a coisa ficou mais fácil e íntima... Simplesmente Didi.
Como sempre morei no quarteirão entre ruas Tomé de Souza, Carlo Del Prete, João Pessoa e Dr. Flaquer, ficou fácil identificarem o local, uma vez que a escola se situe por aí.As perguntas se intensificaram: Elas perguntaram sobre a minha infância: quais as brincadeiras, de quais materiais eram feitos os brinquedos, quais os animais com que convivíamos (cachorros, gatos, coelhos, galinhas. etc.), como esses animais eram sacrificados para a alimentação, uma vez que não existiam os matadouros, (Aiii !!!!) quais escolas que havia na cidade e onde eu tinha estudado. Se as ruas eram asfaltadas. A partir de que ano isso aconteceu. Brincavam de casinha? Sim. No quintal tinha uma casinha feita por meu irmão, com tábuas de madeira pegas na fábrica de móveis de meu pai onde tínhamos tanto as coisas de bonecas como uma prateleira com bichos conservados em álcool, que pegávamos pelo grande quintal. Eram cobras, grandes aranhas, e outros pequenos animais que encontrávamos. Não contei sobre os quadros de insetos e borboletas presos com alfinetes, para não os incentivar a tira-los da natureza. O que eu fazia na minha juventude? Eu ia respondendo: cinema, quinta, e sábado com dois filmes diferentes por sessão e domingo, duas sessões com o mesmo filme. Que mais? Encontro com os amigos na Praça Lauro Gomes. Linda! Sem aquelas grades e as barracas dos camelôs e as reuniões na casa de amigos, onde colocávamos na vitrola os últimos sucessos da música nacional e internacional aproveitando para dançar e começar o flerte, a paquera para um futuro namoro. Engraçado... eles vibravam com cada palavra minha.
Quiseram saber como comecei meu namoro, quando casei, quantos filhos tive e qual a coisa que mais marcou minha vida. Ao falar que foi meu casamento e o nascimento dos filhos e mais tarde dos netos, eles não aceitaram isso como a minha maior satisfação pessoal. Aí falei como foi ter ido para o Japão sozinha e ter me saído bem, apesar de meu péssimo inglês.... Que mais??? Eu ter escrito meus livros de culinária. Aí as perguntas dobraram. Chegamos a conversar sobre a importância de o jovem saber cozinhar para sobreviver no futuro, uma vez que comer fora de casa em todas as refeições é difícil e oneroso e que futuramente será muito difícil termos empregados. Algumas crianças se manifestaram dizendo que já sabem cozinhar alguma coisa, inclusive pelo incentivo de a escola dar aulas de culinária.
Quando perguntaram como fiquei viúva, como e porque meu marido faleceu, ao contar que foi uma isquemia cerebral, com explicação ao nível do entendimento deles, e que os neurologistas relacionaram isso ao ele ter fumado por muitos anos, apesar de ter deixado o vício há vinte anos, a conversa virou um turbilhão: a maioria queria contar um caso dentro de sua família em consequência do fumo, a tal ponto que a coordenadora Lourdes teve que interromper para dar sequência a outras perguntas. Excedemos o horário que estava previsto tanto o interesse das crianças.
Ante o pedido delas de que um dia eu retorne para que eles tenham novas informações do passado, isso dito por eles, foram agradecendo, um por um minha presença e saliento aqui o agradecimento de um menino:
“Didi, muito obrigado por você nos contar tantas coisas de sua vida. Você é uma pessoa idosa que conversa com a gente como igual. ”
Pode ter coisa melhor do que a gente ouvir isso? Ganhei meu dia!
Um abraço, Didi

Folha Do ABC

A FOLHA DO ABC traz o melhor conteúdo noticioso, sempre colocando o ABC em 1º lugar. É o jornal de maior credibilidade da região
Nossa publicação traz uma cobertura completa de tudo o que acontece na região do ABCDM.

Mais nesta categoria: Histórias da vida- Finados »

1 Comentário

Deixe um comentário

Make sure you enter the (*) required information where indicated.Basic HTML code is allowed.

Main Menu

Main Menu