Vamos fazer uma comparação entre nós, meros viventes e a poderosa Mulher Maravilha que o cinema nos mostra.
Nascemos mulher... e em criança, brincávamos na rua, subíamos em árvores, estudávamos, nos encontrávamos com amigos na praça, nos cinemas, nos bailes.
Lembro que em solteira, meu pai me ensinou a consertar goteiras da casa, pois o teto era de estuque, e era fácil subir, pois ela tinha uma torre e eu ia por uma janela. Também gostava de fazer pequenos consertos de eletricidade, como consertar chuveiros, etc.
Namorámos (eu e Theo) nos casámos e vieram os filhos. No meu caso, como professora de música, quando meu primeiro filho nasceu, optei por cuidar, dele do marido e da casa.
Não existiam fraldas descartáveis, então após dar uma limpada na fralda de tecido, ela já ficava no banheiro em um balde com água e sabão de coco. Nada da roupa do bebê ia para máquina de lavar. Nem as camisas sociais do marido. E depois de secas, tudo, como as demais roupas eram passadas a ferro. Mamadeiras? Todas escaldadas e eram 8 por dia, preparadas e colocadas na geladeira. Hora de as dar, esquentadas em banho maria (o pai ajudava muito). Quentinhas não existiam. Fazíamos almoço e jantar, já mais ou menos combinados. Sem microondas, era tudo mesmo no fogão. Ainda bem que meu marido Theo não era enjoado, nem as crianças. Bem, os pequeninos, tinham a papinha extra. Depois que tive uma ajudante na casa, sempre continuei na cozinha. Roupas dos meus 3 meninos e minhas, eu que fazia. Casacos de tricô, eu era eximia.
Entrei como voluntária na Legião Brasileira de Assistência, ficando lá por sete anos. Bem... isso é outra história.
Com os filhos crescendo e indo a escola, fiz alguns cursos de artesanato, de cerâmica, moldando e pintando, e com 3 amigas abrimos um atelier, trabalhando em minha casa. “Coisas da Dica’s”, fazendo duas exposições por ano em minha casa. Acho que fizemos isso por uns três anos. O grupo dispersou. Ai, também com outras 3 amigas, montamos o grupo de enfeites de Natal. Também ficamos alguns anos até a abertura do mercado coreano, quando nossos enfeites feitos ponto a ponto, a mão, não compensou mais.
Lojas da cidade nos convidavam para expor as peças, que tinham tardes muito concorridas com as amigas. No meu caso isso tudo foi entremeado com minhas doenças e os canceres. Sem poder ficar parada, comecei a escrever sobre culinária. Fui atrás e consegui ver meus livros impressos pelo Círculo do Livro, Melhoramentos e Nobel. Tardes de autógrafos muito movimentadas. Aqui na cidade eu fazia os patês, decorava os lugares (Yo Kido, fez como amigo, algumas decorações) e em São Paulo, em restaurantes na Rua Ocar Freire, por conta do lugar. E os amigos, presentes.
Além de colocar os livros nas rotisseries, eu colocava os vidros com picles em conserva e os de Mango Chutney, numa época em que não se encontravam a venda comercialmente. Sempre trabalhei como voluntária, principalmente orientando pessoas com câncer.
Comemorei a vida... os anos de vida. Fiquei só depois que o Theo partiu e me adaptei a minha solidão. Principalmente durante a pandemia, quando a Internet me ajudou muito a suportar esses momentos... os amigos mesmo distantes, presentes ao pegar meu celular. E como a cabeça pensa, não deixava de escrever as crônicas para o jornal.
Hoje vejo muitos homens colaborando com as esposas, dividindo as tarefas caseiras. Muitos cozinhando, verdadeiros mestres cuca. Parabéns a você que está lendo esse texto.
Então eu pergunto: nós, mulheres, milhões como eu, não somos todas Murelhes Maravilha? Voar, só em sonhos, mas colocar a mão na obra, é com a gente mesmo.
E Viva o Dia dos Pais! Muitos também Super Homens!
Um abraço, Didi