08 May 2024


Beethoven-Fest recria concerto de Beethoven, de 1808, em Viena

Publicado em Cultura & Lazer
Avalie este item
(0 votos)

Em 22 de dezembro de 1808, no emblemático Theater an der Wien, em Viena, a música do compositor alemão Ludwig van Beethoven [1770-1827] foi ouvida ao longo de quase quatro horas seguidas. Na primeira parte deste concerto estrearam mundialmente a Sinfonia nº 6 – Pastoral e o Concerto nº 4, com o próprio Beethoven como solista, e foram interpretadas a ária Ah! Perfido, para soprano e orquestra, e o “Glória” de sua Missa em Dó Maior. Na segunda parte do evento, o público escutou pela primeira vez a Sinfonia nº 5 e a Fantasia Coral, para piano e solistas, além do “Sanctus”, também da Missa em Dó Maior, e um improviso pianístico.

Sob a regência de seu Diretor Musical e Regente Titular, Thierry Fischer, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp recria nesta semana, na Beethoven-Fest, esse marco da história da música: na quinta (14/dez) e na sexta-feira (15/dez), às 20h30, serão ouvidas as duas partes do programa original, uma em cada noite; já no sábado (16/dez), às 17h e às 20h30, duas formações orquestrais distintas vão reconstruir integralmente a lendária performance de 215 anos atrás, considerada por muitos “o maior concerto de todos os tempos”.

Vale lembrar que os ingressos para todos os dias já estão esgotados, mas as duas apresentações de sábado (16), às 17h e às 20h30, serão transmitidas ao vivo pelo canal oficial da Osesp no YouTube.

O longo concerto daquela fria quinta (22) de dezembro ficou célebre por uma série de razões: a importância histórica das obras ali apresentadas (Beethoven anunciou todas elas como inéditas, embora algumas, como o Quarto Concerto para Piano, já tivessem sido ouvidas em reuniões privadas); a reação dividida dos ouvintes, muitos deles amigos de Beethoven (o compositor Johann Reichardt [1752-1814] chegou a dizer que o concerto teria demonstrado ser possível “sofrer pelo excesso de coisas boas, ainda mais se elas são tão poderosas”); as críticas publicadas na imprensa (o histórico jornal Allgemeine musikalische Zeitung chegou à conclusão de que “julgar todas essas peças após uma única audição, especialmente considerando a linguagem das obras de Beethoven, sendo a maioria delas tão grandes e longas, é absolutamente impossível”); e, finalmente, a controvérsia sobre o sentido de eventuais mensagens de cunho político (os ideais revolucionários se espalhavam pela Europa e as Guerras Napoleônicas [1803-15] estavam na ordem do dia) reconhecidas pelo público nas obras compostas para a ocasião.

Para o filósofo – também alemão – Theodor Adorno [1903-69], a relação de Beethoven com o seu tempo deveria ser interpretada, mais do que à luz de sua biografia ou dos relatos de seus contemporâneos, a partir dos conflitos e tensões presentes na configuração original de suas composições: a própria forma das obras seria capaz de revelar, para ouvidos atentos, o substrato histórico ali sedimentado. Dialogando a cada compasso com os problemas de sua época, Beethoven responderia musicalmente aos desafios históricos daquela época, já presentes no “trabalho de composição” necessário para a criação de suas obras, que seriam “revolucionárias” em um duplo sentido: artístico e político. Por isso, quando Adorno discute o “caráter revolucionário burguês” intrínseco à música de Beethoven, ele insiste: “Vamos refletir sobre Beethoven. Se ele já é o protótipo da burguesia revolucionária, é ao mesmo tempo o protótipo de uma música inteiramente autônoma do ponto de vista estético, uma música que escapou da tutela social, que não é mais servil.

Folha Do ABC

A FOLHA DO ABC traz o melhor conteúdo noticioso, sempre colocando o ABC em 1º lugar. É o jornal de maior credibilidade da região
Nossa publicação traz uma cobertura completa de tudo o que acontece na região do ABCDM.

Main Menu

Main Menu