30 Apr 2024


Especialistas avaliam modelo do Novo Ensino Médio

Publicado em Educação
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O Ministério da Educação (MEC) apresentou, esta semana, proposta para alterações no Ensino Médio. De acordo com documento, no Novo Ensino Médio (NEM) a formação geral básica dos estudantes deve ter um aumento na carga horária, exceto para cursos técnicos, e as áreas de itinerários formativos serão reduzidas.

   A proposta do MEC também defende que disciplinas como espanhol, arte, educação física, literatura, história, sociologia, filosofia, geografia, química, física, biologia e educação digital passem a figurar na formação geral básica.

   Também pede a proibição da educação a distância na formação geral básica e que se autorize o uso de até 20% na oferta para Educação Profissional Técnica. As mudanças geraram debates nas escolas. Em entrevista à Folha, especialistas comentam sobre o assunto. Confira trechos a seguir:

 

Folha do ABC: O Ministério da Educação anunciou esta semana que irá propor o aumento da carga horária das disciplinas básicas e diminuir a quantidade de possíveis itinerários no Ensino Médio. Qual avaliação faz a respeito desta decisão?


Edilson Bertucci, diretor do Colégio Harmonia - "
Aumentar a carga horária das disciplinas básicas pode ser visto como uma maneira de garantir que os alunos tenham uma base sólida de conhecimento em áreas fundamentais como Matemática, Ciências, Português e outras disciplinas essenciais. A redução da quantidade de possíveis itinerários pode ser vista como uma medida para focar mais na formação geral dos estudantes, ao invés de permitir uma especialização não estruturada, com professores não especialistas, como estava acontecendo com uma grande quantidade de escolas. Por falta de proposta ou por falta de estrutura. Mudanças como essas costumam gerar debates, pois podem impactar diferentes grupos de alunos de maneira distinta. Alunos que já têm uma inclinação específica para certos campos de estudo, e que estudam em escolas estruturadas, podem sentir que estão perdendo a oportunidade de explorar essas áreas mais a fundo".

Fabio Aviles, diretor do Ensino Médio do Colégio Singular – “Precisamos, principalmente na parte dos itinerários, de uma regulação um pouco maior. Diminuir o número de itinerários, por exemplo, é uma boa, porque ficou muito aberto. Onde fica muito aberto, aparecem coisas legais e coisas sem sentido. A restrição é fundamental para que o novo ensino médio possa funcionar melhor. Comparado com o modelo anterior, na minha opinião, o novo ensino médio é melhor, pois permite um aluno mais protagonista, passando por escolhas, permite o aluno se entender para que escolha um melhor caminho. Porém é muito aberto. Aqui no Brasil, não estamos acostumados com isso. Estamos acostumados com a lei que diz o que devemos fazer e a lei do ensino médio diz o que podemos fazer e, entre o deve e o pode, não podemos tudo”.

Erika Rinaldi, coordenadora de projetos para o Novo Ensino Médio do Colégio Piaget – "É importante ressaltar que a reforma do Ensino Médio é desafiadora em vários sentidos, em especial no contexto das escolas públicas. Oferecer um currículo flexível e mais diversificado implica ter que garantir estrutura e profissionais qualificados para que o novo currículo seja uma realidade, exigindo comprometimento governamental e pensamento a longo prazo. A diminuição da quantidade de Itinerários é uma solução imediatista e uma forma de diminuir a responsabilidade da implantação de um currículo diferenciado. Infelizmente, isso atende a um modelo mais conteudista de ensino e não garante uma reforma efetiva no Ensino Médio".

Rodrigo Reis, coordenador pedagógico do Colégio Stocco –  "Esta é uma solução bastante plausível, principalmente porque a limitação de 1.800 horas na formação geral básica foi algo que impactou todas as escolas de maneira negativa. Com 1.800 horas, sem nenhuma mudança significativa nos vestibulares, fica muito complexa a preparação de aluno. Essa nova proposta de 2.400 horas começa a contemplar um pouco mais a necessidade de tempo didático que cada disciplina precisa para, de fato, trabalhar com qualidade os conteúdos necessários para vida desses estudantes e para o vestibular. Importante que essas 2.400 horas não sejam fixas, que possam ser extrapoladas, permitindo cada escola ir além em determinada matéria. A diminuição dos itinerários formativos, embora possa soar como uma certa perda, acaba sendo necessária. Para a educação privada os alunos vão ter contato com coisas bacanas e na educação pública fica mais fácil de implementar os itinerários formativos e, ao mesmo tempo, cede parte dessas aulas para a formação geral básica, que é o principal, que precisa ser o carro chefe da nossa educação, pautado no vestibular. Vejo com bons olhos a ampliação da formação geral básica e vejo a redução dos itinerários formativos como uma consequência".

  

Folha: Sobre a redução das áreas de itinerários formativos de cinco para três. Isso poderá prejudicar o ensino nas escolas públicas em comparação ao das escolas particulares?

Edilson Bertucci, diretor do Colégio Harmonia - "A redução das áreas não causará desigualdade entre as escolas públicas e privadas. O que impactará no novo Ensino Médio será a estrutura para oferecer projetos robustos e o quanto a escola está preparada para implementar com criatividade e competência esses projetos, isso tanto para escolas públicas, quanto para as privadas. Tanto as escolas públicas quanto as particulares podem oferecer um ensino de alta qualidade, desde que haja um investimento adequado em recursos educacionais, formação de professores e desenvolvimento de currículos relevantes".

Fabio Aviles, diretor do Ensino Médio do Colégio Singular – "Acho que não. Entendo que foi aberto um leque muito grande de itinerários, assim perde um pouco do foco e a chance de aparecer coisas que não são legais é maior. Acho que a redução facilita, pois com menos itinerários, poderão formar melhor os professores em um número de itinerários menor".

Erika Rinaldi, coordenadora de projetos para o Novo Ensino Médio do Colégio Piaget – "Sem dúvida, a reforma do Ensino Médio fará com que as diferenças entre o ensino público e o privado se acentuem. Enquanto no contexto das escolas particulares, contamos com materiais didáticos, profissionais especializados, parcerias com universidades, laboratórios, entre outras coisas, no contexto das escolas públicas, existe um desamparo em vários níveis. Evidentemente, isso afetará nas experiências de aprendizagem, que ocorrerão em menor número e com menor qualidade no ensino público".

Rodrigo Reis, coordenador pedagógico do Colégio Stocco – " Essas restrições vão criando degraus maiores entre as escolas públicas e privadas. A escola privada tem uma infinidade de recursos e possibilidades para gerar os mais diversos itinerários formativos e tem até parcerias que permitem isso. Para escola pública isso é mais complexo. Ao mesmo tempo, não vejo a restrição como solução. A solução seria buscar saídas, como parcerias público-privadas para que seja factível ofertar mais e melhor os itinerários para os jovens das escolas públicas".

 

Folha: Outro ponto abordado pelo MEC é a restrição do Ensino a Distância (EAD), com a proibição na formação geral básica e uso de até 20% na oferta para Educação Profissional Técnica. Qual avaliação faz a respeito?

Edilson Bertucci, diretor do Colégio Harmonia - "Concordo plenamente com essa decisão. Tivemos algumas experiências negativas de ensino on-line durante a pandemia. Por uma questão de falta de estrutura das escolas e, principalmente, dos alunos, isso na média nacional, houve muitas perdas pedagógicas durante o período de isolamento social".

Fabio Aviles, diretor do Ensino Médio do Colégio Singular – "Na lei anterior, a quantidade não era muito diferente. É mais fácil fazer o aluno engajar na EAD que não for na formação geral básica, do que for na formação geral básica. Pois, no itinerário o aluno escolhe, então, a tendência dele escolher e por isso se engajar numa EAD é maior. Quando gostamos do curso, fazemos. Agora quando não gostamos tanto, fica difícil engajar. É importante ter EAD”.

Erika Rinaldi, coordenadora de projetos para o Novo Ensino Médio do Colégio Piaget – "O ensino a distância se mostrou um recurso indispensável no contexto da pandemia de Covid-19 e tem se mostrado uma ferramenta interessante no ensino superior e no mercado de trabalho (apesar das limitações). No entanto, no contexto escolar, o ensino a distância não é, de uma forma geral, produtivo, pois os estudantes ainda estão desenvolvendo a autonomia, a maturidade, a autorresponsabilidade - elementos essenciais para aprender de modo remoto. Devemos, também, levar em consideração que, além de ser espaço de aprendizagem, a escola é lugar de convívio social, o que torna essencial o modelo presencial. Como agravante, ainda temos que avaliar a questão da falta de infraestrutura. Diante das condições socioeconômicas em que muitos alunos estão, fica o questionamento: como garantir que o estudante da escola pública tenha acesso a internet, computador, ambiente adequado de estudo?"

Rodrigo Reis, coordenador pedagógico do Colégio Stocco – " Se for olhar para o mundo educacional de São Paulo, eu sou muito a favor dessa decisão, na qual nós conseguimos levar a educação com certa qualidade mesmo com todas as restrições que o ensino público tem, com certa qualidade à praticamente toda a população. Porém, essa decisão, embora assertiva no contexto São Paulo, talvez tenha uma questão muito séria no contexto Amazonas, por exemplo no qual você tem distancias muito grandes, pessoas muito dispersas, uma densidade populacional muito pequena, em que muitas vezes a única solução é a possiblidade do EAD. Acredito que no ensino EAD não funcionou e a pandemia veio para nos mostrar isso. Mas, em algumas situações, como no Amazonas, ele é uma das saídas mais viáveis. A ideia da lei é interessante, mas é importante ter um cuidado muito refinado para lembrar que o Brasil é um país muito grande, de realidades muito distintas. Para realidade São Paulo, faz todo o sentido do mundo. Para a realidade amazonense, não faz muito sentido, porque é o mecanismo que eles conseguiram estruturar para isso funcionar".

 

Foto: Gabriel Jabur - Agência Brasília - Agência Brasil 

 

Por Nicole Floret - 12/08/23

Última modificação em Sábado, 12 Agosto 2023 09:29
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