27 Apr 2024


Pacientes pós-Covid podem sofrer disfunções cognitivas, diz InCor

Publicado em Saúde
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Os relatos são alarmantes: “Lembro-me de fazer o pedido da comida e de pagar por ele. Mas não me lembro de ter comido”. “Dormi em pé tomando banho”. “Meu marido sofreu traumatismo craniano enquanto andava de bicicleta e dormiu”; “Tive que vender minha moto, desaprendi a andar, não consigo mais ter coordenação e nem equilíbrio para ficar em cima dela!”.

Essas são algumas histórias contadas por pacientes que se recuperaram da Covid-19. Mas engana-se quem pensa que as sequelas são somente em pessoas que sofreram a doença no estágio mais grave. Pacientes que tiveram coriza ou outros sintomas mais leves e até mesmo os assintomáticos também foram diagnosticados com disfunção cognitiva em algum grau.

Isso é o que mostra o estudo inédito no mundo - "O uso do jogo digital MentalPlus para avaliação e reabilitação da função cognitiva após remissão dos sintomas da Covid-19" -, realizado no InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP), pela neuropsicóloga Lívia Stocco Sanches Valentin.

Os resultados deixam evidente que a recuperação física nem sempre implica na recuperação cognitiva, diz a pesquisadora, que também é professora da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP). “Isso deixa clara a importância de se incluir na avaliação clínica dos pacientes pós-Covid-19 de qualquer gravidade sintomas de problemas cognitivos como sonolência diurna excessiva, fadiga, torpor e lapsos de memória”, explica a médica, “para que, com o diagnóstico precoce, possa haver uma rápida intervenção terapêutica”.

A questão é tão importante que a OMS (Organização Mundial da Saúde) aguarda os resultados finais do estudo para adotar a metodologia desenvolvida na pesquisa do InCor como padrão-ouro em âmbito mundial no diagnóstico e na reabilitação da disfunção cognitiva pós-Covid.

Como foi a pesquisa

A pesquisadora usou o jogo digital MentalPlus, criado por ela em 2010, para avaliar pessoas que tiveram Covid-19 em variáveis estágios, idades e classes econômicas. “Este jogo nasceu para detectar possíveis disfunções neurológicas em pacientes que eram prejudicados após o uso de anestesia geral profunda. Esse mecanismo não só avalia como ajuda na reabilitação. Então decidi usar o MentalPlus na pesquisa com pessoas que tiveram sintomas ou que testaram positivo para a da Covid-19. O resultado foi impactante: independentemente do grau da doença, da faixa etária ou do nível de escolaridade, os pacientes que tiveram sintomas podem sofrer de disfunção cognitiva”.

A primeira fase do estudo foi feita com 185 pessoas, entre março e setembro de 2020. Atualmente já são 430 pacientes em acompanhamento na pesquisa.

Os resultados indicam que em 80% dos participantes da pesquisa o coronavírus ocasiona dificuldade de concentração ou atenção, perda de memória ou dificuldade para lembrar-se das coisas, problemas com a compreensão ou entendimento, dificuldades com o julgamento e raciocínio, habilidades prejudicadas, problemas na execução de várias tarefas, mudanças comportamentais e emocionais, além de confusão.

Outra consequência detectada no estudo é a diminuição da capacidade visuoperceptiva. “Muitas pessoas perderam a coordenação motora e caem muito”, diz Lívia. Ela explica que, segundo exames de ressonância magnética funcional, isso acontece porque a função executiva é afetada em pessoas que já contraíram o Sars-Cov-2.

“Em uma pessoa saudável, essa função faz com que ela planeje o dia e busque estratégias para atenuar problemas, por exemplo. Se a pessoa perde essa função ou se ela ficar comprometida, isso pode interferir no trabalho e nas relações sociais, e, com isso, levar à depressão, ansiedade, angústia e agressividade”, diz.

A médica do InCor detalha que as sequelas cognitivas acontecem porque o vírus entra pelas vias aéreas, compromete o pulmão e, com isso, baixa o nível de oxigênio. “A dessaturação de oxigênio vai para o cérebro, acomete o sistema nervoso central e afeta as funções cognitivas”, revela.  

Segundo Lívia, o quadro é passível de reversão, por meio de exercícios cognitivos específicos como os do aplicativo MentalPlus utilizado no estudo. Essa atividade funciona como uma “musculação mental”, explica a pesquisadora.

Ao forçar a atividade do cérebro, o órgão é estimulado a um maior consumo de oxigênio, melhorando paulatinamente seu desempenho. “Quanto mais cedo tiver início a terapia cognitiva, mais rápida será a recuperação e, consequentemente, menores os prejuízos mental, emocional, físico e social para essas pessoas”, afirma.

Última modificação em Quinta, 11 Fevereiro 2021 10:28
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