O ex-presidente da República e senador por Minas Gerais Itamar Franco faleceu, num hospital de São Paulo, no dia 02 de julho deste ano de 2011. Foi exaustivamente louvada pela mídia e por políticos sua atuação na vida pública como exemplo de dignidade e honradez em todos os postos que ocupou, principalmente na presidência do País como vice-presidente de Fernando Collor, em razão da renúncia deste para fugir de sua cassação pelo Senado Federal. Embora sejam comuns os elogios endereçados às pessoas falecidas, principalmente quando se trate de políticos, no caso de Itamar Franco todas as referências positivas são mais que merecidas. O jornal paulista O Estado de S. Paulo publicou interessante charge em sua página 2 da edição de 5 deste mês de julho mostrando Itamar a bordo de um Fusca subindo diretamente ao céu rodeado por brancas nuvens. É que, como presidente, ele pediu à Volkswagen, em 1994, a reedição de nova série desse carrinho que marcou sua presença no Brasil por longo período, embora já aposentado pela montadora.  O desenho do Estadão, com boa dose de humor, lembrou-me passagem da Bíblia em relação ao profeta Elias que havia profetizado desgraças entre as quais o fim dos tempos, daqueles tempos tão remotos para nós.  Na companhia de um seu discípulo atravessou o Rio Jordão e foi elevado ao céu num carro de fogo. Na iconografia religiosa da Antiguidade cristã esse momento simboliza a elevação do profeta e de sua alma para o gozo da vida eterna. Nos museus do Louvre em Paris e do Prado em Madri, entre outros, há várias telas de grandes pintores fixando essa interessante passagem do Antigo Testamento. No caso de Itamar, com seu fusquinha, rumo ao céu, não está ele envolvido em fogo, mas envolto no carinho dos brasileiros, que reconhecem a importância histórica de sua passagem pela presidência da República depois da tumultuada era Collor, ponteada por escândalos e corrupção que o conduziram, ele sim, ao fogo de sua fritura política. Dois políticos, duas vidas: uma emoldurada pela imagem vergonhosa de terra arrasada; outra, a do pranteado Itamar, imersa num envoltório de raras virtudes, exceção acidental no conturbado momento político da vida brasileira.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.