26 Apr 2024

Publicado em TITO COSTA
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22/09/12

Em meu "Breviário Um Pouco Sentimental", livro de crônicas publicado em 1991, há um texto sobre o acidente ocorrido em Goiânia em setembro  de 1987, com o Cesio-137. Era um engenho radioativo, mortal, encontrado no lixo, por catadores de papel que, desavisadamente, o acionaram causando consequências desastrosas com mortes e aleijões em inúmeras pessoas em decorrência dos efeitos radioativos daquela peça mortífera. Destaquei, na crônica, o caso da menina Leide das Neves Ferreira, de 6 anos, uma das vítimas fatais daquele evento. Jornais da época divulgaram o fato contando que a menina Leide morreu no inicio da noite de 24 de outubro de 1987 no Hospital Marcilio Dias, no Rio de Janeiro, por ter ingerido radiações do Césio-137 liberados daquela peça em níveis nunca antes observados pela medicina nuclear. Diz a nota da imprensa que a menina ingeriu pó de césio  comendo pão com as mãos sujas e, no quarto escuro do hospital para onde foi levada, uma aura azulada sobre sua cabeça denunciava os terríveis efeitos da radiação que continuava, mesmo depois da morte da vítima inocente. Os médicos, segundo anotaram os jornais, aproximavam-se dela com precaução para não se contaminarem também. Além dela, inúmeras vitimas foram atingidas pelos efeitos da radiação mortífera.
Semanas atrás deste setembro do ano de 2012, os jornais noticiavam que vítimas do Césio-137 ainda lutam por remédios em razão de problemas burocráticos que impedem a distribuição de medicamentos há quase dois anos. E assim, vinte e cinco anos após o acidente radioativo de Goiânia, vitimas e trabalhadores envolvidos na limpeza dos locais contaminados ainda brigam na justiça para obter indenização e remédios. O governo do estado de Goiás criou um Centro de Assistência aos Radioacidentados (CARA), mas a verba de dez mil reais mensais para esse Centro foi cortada por questão burocrática e as infelizes vitimas ficam ao desabrigo de uma atenção específica do poder público que se ausenta sem maiores explicações. O acidente radioativo de Goiânia é considerado até hoje um dos maiores do mundo. Mas o público se esquece, as autoridades se encolhem, e a justiça, ora a Justiça, todos sabemos de sua lerdeza muitas vezes desumana e indiferente à sorte de humildes litigantes. O velho Trilussa, poeta italiano, com suas sátiras e alegorias, traduzido no Brasil por Carlo Prina, lembrava que a venda nos olhos da Justiça impede que ela olhe para cima, mas pode ver coisas e pessoas  que estão por baixo. Os poetas sabem e sentem o que escrevem. Ridendo castigat mores (brincando criticam-se os costumes).

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

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