30 Apr 2024

Publicado em Editorial
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  O Carnaval foi palco de mais uma tragédia decorrente das chuvas de verão no Brasil. Desta vez, no litoral norte de São Paulo. As chuvas que atingiram os municípios são o maior acumulado que se tem registro no país, com 682 milímetros e um rastro de destruição ainda incalculável. São mais de 46 mortos, 40 desaparecidos e 750 desabrigados. Mas, essa não foi a primeira vez e, muito menos, será a última.
  Todos os anos, a situação se repete em diversos lugares do país. Sempre, atingindo a população de baixa renda. Os mortos e os mais castigados pelos eventos extremos são, sempre, os mais pobres. O descaso, por parte dos governantes, é contínuo e acontece há décadas. O que as tragédias têm mostrado, todas as vezes, é que, nunca, nada é feito para prevenir ou evitar que mais destruição e mortes ocorram.
   Apenas, após o ocorrido, há mobilização para tentar consertar estragos físicos. O reparo na vida de milhares de pessoas que perdem entes queridos, suas casas e tudo que conquistaram em anos de vida, é feito simbolicamente com a entrega de mantimentos e doações de cestas básicas.
  Em poucos dias, ou até que reparos nas estradas sejam terminados, tudo volta ao normal e quem perdeu tudo, terá a amarga sensação de que, novamente, está sozinho frente a todos os problemas decorrentes do estrago.
   Os fatores que colaboram para que as chuvas provoquem deslizamentos, estragos e mortes vão além da ocupação irregular da população de baixa renda em morros e encostas, decorrente dos ineficazes programas habitacionais. É preciso mencionar a intensa especulação imobiliária, junto à construção civil, nas regiões mais nobres do litoral.
   A especulação não poupa mangues, restingas, costões e, muito menos a vegetação que sobrou da Mata Atlântica, que cobre morros e a serra do Mar e, reserva aos mais abonados, os melhores lotes, os mais próximos do mar na Barra do Sahy, Una, Baleia, Maresias, Juquehy, Toque Toque, etc.
  Não é apenas os pobres ocupam áreas proibidas em topos ou encostas de morros. Os frequentadores do litoral Norte e os que assistiram nas telas o sobrevoo dos diversos helicópteros que percorreram as áreas afetadas, puderam observar mansões em topos de morros, que tiveram a Mata Atlântica decepada, condomínios e hotéis em áreas de mangues e restingas. Além de costões, que foram cimentados para alguns construírem um píer e terem seus barcos por perto. Tudo, absolutamente, proibido pela legislação ambiental, mas que acontece frequentemente.
  A expansão urbana intensa e desordenada do litoral chama atenção. Segundo a plataforma MapBiomas, em São Sebastião, a área urbanizada mais do que quadruplicou (345,8%) desde 1985. Em Ilhabela, foi registrado aumento de 6.400% no mesmo período e, em Ubatuba, houve acréscimo de 419,6%.
  Como se isso tudo não bastasse, há o aquecimento global, totalmente fora de controle. A consequência são os eventos extremos cada vez mais frequentes e potentes. O tema é sabido por todos, mas o poder público o ignora. Ainda mais no Carnaval. Quem irá impedir o maior evento do calendário brasileiro e seu faturamento milionário?
   Um exemplo disso foi o prefeito de Ilhabela, Antônio Colucci, que apesar do caos, mortes e destruição, não suspendeu o carnaval: ‘nossa indústria não pode parar’. E quantos não têm o mesmo pensamento? A verdadeira solidariedade e compaixão não está, apenas, na entrega de donativos.
   Alguém duvida que até o final do verão, novas tragédias vão ocorrer? E no próximo verão, qual será o saldo de mortes, desabrigados e desaparecidos? Quantos irão perder seus lares, com risco de nunca mais recuperá-los? Até quando iremos assistir esse mesmo filme de terror todos os anos?

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