30 Apr 2024

Publicado em Editorial
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   O brasileiro tem passado, em média, 2 horas diárias, em frente a telas do celular, computador e tablet, segundo um estudo elaborado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e publicado no American Journalof Health Promotion. Também foi apontado que, em cinco anos, aumentou, consideravelmente, o número de brasileiros que fazem uso prolongado de telas no pouco tempo que têm disponível para o lazer.
   A tela está preenchendo o lugar do café, do futebol ou chope com os amigos, da ida ao cinema, ao teatro, ao museu ou qualquer outro passeio. As conversas andam mais curtas, as trocas de mensagens ou áudios por WhatsApp mais intensas. Todo mundo está ao mesmo tempo mais conectado, porém distante. A superficialidade tem dominado as relações sociais.
   Além disso, o dia a dia passa pelo filtro do que é “instagramável” ou não. Até restaurantes ou lojas recém inauguradas, agora, têm “espaços instagramáveis”. O que vale é a experiência, ainda que seja atrás de uma tela, para postar e mostrar para os outros. Viver o momento sem uma tela junto é praticamente démodé. O celular está presente em todo e qualquer evento. Desde uma simples ida ao supermercado, a um restaurante, a uma festa, até uma missa.
   Todo mundo, agora, é produtor de conteúdo. Se antigamente, no tempo onde só existia a TV, passávamos horas assistindo uma grade com uma dezena de canais abertos, hoje em dia, ao entrar em qualquer rede social, teremos milhões de “canais”, com produtores de conteúdos que falam sobre todo e qualquer tema. E se os versos de Caetano Veloso, na música “Alegria, Alegria” questionavam: “Quem lê tanta notícia?”, em 1967. Hoje, poderiam ser adaptados para quem consome tanto “conteúdo”?
   Os poucos momentos de lazer que ainda restaram para as pessoas que buscam entretenimento, já não são mais tão satisfatórios assim. Depois de um longo período de restrições com a pandemia, as grandes bandas internacionais voltaram a se apresentar no Brasil. Uma delas é o Coldplay que cumpre maratona de shows pelo país. Mas, quem não se surpreendeu ao ver no noticiário, nessa semana, as apresentações realizadas no estádio do Morumbi, em São Paulo?
   O brasileiro já está acostumado com o cenário assustador das enchentes, alagamentos e destruição causados, anualmente, pelas chuvas intensas do verão por negligência do poder público. Agora, nos poucos instantes que tem de lazer, também teve que se deparar com o caos. No caso do show do Coldplay, um simples momento de diversão e entretenimento se tornou um flerte com a tragédia.
   Um cenário de caos, alagamento com direito a cascatas de água dentro do estádio, enxurrada nas filas na entrada do estádio, desmaios em aglomerações, suspeita de venda de ingressos a mais do que a capacidade, fãs instalados em regiões improvisadas e confusão nas arquibancadas. Um cenário triste. Sem mencionar o silêncio dos organizadores responsáveis e do poder público. Vale lembrar que os ingressos passavam dos R$ 750.
   Porém, o caos não é novidade no Morumbi. O maior estádio particular do País e terceiro maior do Brasil, em 1985, recebeu a banda Menudos. Também com chuvas torrenciais, concentraram 150 mil em uma das apresentações. Um público até hoje recorde, que por pouco não protagonizou uma tragédia. Ao final do show, os fãs invadiram a pista, avançaram sobre os integrantes e só não os estraçalharam porque um helicóptero pousou no palco para resgatá-los. O que mudou ao longo dos anos? O que irá mudar? Talvez, o brasileiro passe ainda mais horas de frente para as telas.

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