03 May 2024

Publicado em Editorial
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   O negacionismo na pandemia de Covid-19 teve proporções alarmantes, manifestando-se na negação ou minimização da gravidade da doença, no boicote às medidas preventivas, na subnotificação dos dados epidemiológicos, na omissão em traçar estratégias nacionais de saúde, no incentivo a tratamentos terapêuticos sem validação científica e na tentativa de descredibilizar a vacina. Agora, o que o mundo assiste é um outro tipo de negacionismo, o climático.
   O negacionismo vai além de um boato ou fake news. Ele nega o conhecimento, a crítica, as evidências empíricas, o argumento lógico, as premissas de um debate público racional, e se pauta em uma rede de desinformação. Se, ainda, está alinhado para ocultar interesses político-ideológicos, certas vezes escusos, ainda ganha mais força.
   Em julho, o mundo assistiu imagens, na tv e online, do Hemisfério Norte arder de calor. As ondas de calor atingiram diversas partes do hemisfério norte, com temperaturas ultrapassando os 50°C em algumas áreas, na China e nos Estados Unidos. Na Europa, algumas regiões também bateram recordes de temperatura, como a Catalunha, na Espanha, que registrou o dia mais quente da história, com 45°C e a ilha de Sardenha, na Itália, que registrou, 46°C.
   As ruas ficaram quase desertas, desta vez, não devido ao vírus da Covid-19, mas pelo calor excessivo. Foi possível assistir depoimentos de europeus contando que não conseguiam nem mesmo fazer as coisas normais da vida cotidiana.
   As explicações dos especialistas para esse cenário alarmante parecem óbvias. O alerta já foi feito décadas atrás: a crescente concentração de gases de efeito estufa na atmosfera da Terra teriam efeitos perigosos no clima. Mas, o que se ouve e o que se lê como explicação, que flerta com negacionismo, são argumentos como a chegada do fenômeno climático natural El Niño, que tem um efeito de aquecimento global, que eleva as temperaturas a extremos recordes.
   Eventos climáticos extremos estão se proliferando. À medida que a crise climática se intensifica, cientistas têm certeza de que ondas de calor recordes devem se tornar mais frequentes e ainda mais severas. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou que a “era do aquecimento global acabou, agora é o momento da era da ebulição global”. Ele também disse que “a mudança climática está aqui, é assustador e isso é só o começo.
   Um grupo de estudo formado por pesquisadores de diferentes instituições, incluindo o Imperial College, de Londres (Inglaterra), apontou que as ondas de calor extremo na Europa e nos Estados Unidos foram consequência de atividades humanas e que irão se tornar cada vez mais frequentes. Os cientistas também revelaram que se não fosse pela queima de combustíveis fósseis, esses eventos seriam extremamente raros. Na China, por exemplo, ocorreriam uma vez a cada 250 anos, e praticamente impossíveis de acontecer no sul da Europa.
   As consequências do calor excessivo já estão tendo impactos significativos na população. Apenas no ano passado, mais de 60 mil europeus morreram por consequência do calor excessivo. Na Europa, houve aumento de mais de 20% no número de pessoas internadas com sintomas relacionados ao calor, como desidratação, exaustão, insolação e confusão.
   No Brasil, as ondas de calor ainda não bateram essas marcas, mas o País também está no mesmo caminho. Não há interesse público em prevenção e cuidados efetivos com o meio-ambiente. No ABC, a situação não é diversa. Basta andar pelas ruas e observar a facilidade com que o poder público permite que uma árvore seja suprimida ou arrancada, pelos motivos mais estapafúrdios possíveis, seja porque atrapalha a fachada do estabelecimento comercial ou as folhas “sujam” a calçada.
   Se nada for feito vamos repetir, em breve, as cenas da pandemia de Covid-19, quando todos ficavam em casa, mas desta vez, será pelo calor excessivo, como muitos já fizeram no mês de julho último, na Europa.

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