A vice-presidente da GM do Brasil, Marina Willisch, em entrevista exclusiva, revelou que apesar do impacto da pandemia na produção da indústria automotiva, a recuperação do mercado está “mais rápida que o esperado”. Marina também contou que a GM aspira ter um portfólio de veículos leves 100% zero emissão, a partir de 2035, em diversas faixas de preços e que a montadora tem o compromisso de produzir, globalmente, 30 modelos totalmente elétricos até 2025. Além disso, enfatizou a importância da fábrica de São Caetano, que tem recebido melhorias para produzir uma picape inédita, a Nova Montana. Confira.

Folha do ABC - A GM suspendeu as atividades em algumas unidades no País diante do desabastecimento mundial do mercado de semicondutores, utilizados nos chips eletrônicos. Qual o impacto a produção sofreu e como tem sido superado esse desafio, junto à pandemia?

 Marina Willisch - A cadeia de suprimentos da indústria automotiva na América do Sul tem sido impactada pelas paradas de produção durante a pandemia e pela recuperação do mercado mais rápida que o esperado. Isso está afetando de forma temporária nosso cronograma de produção no Brasil. Conforme anunciado recentemente, a produção da fábrica de São Caetano foi interrompida no dia 21 de junho para ser preparada para receber a nova picape, retomando em 16 de agosto em um turno. A GM segue trabalhando com seus fornecedores para retomar a produção regular o mais rápido possível.

Folha - Como a GM está se estruturando para o desenvolvimento de veículos elétricos e autônomos? A empresa pretende parar de vender automóveis com motores de combustão interna nos próximos anos?

 Marina - A GM aspira ter um portfólio de veículos leves 100% zero emissão a partir de 2035 e tem ciência de que para isso é preciso o engajamento de diversos públicos em todos os mercados que atua. Entre os públicos mais importantes estão governos, sindicatos, fornecedores e consumidores. Este é um dos principais passos para conquistar a meta desafiadora de ser neutra em emissões de carbono até 2040.

A empresa está definindo metas ambiciosas que são importantes para impulsionar as mudanças necessárias em direção ao futuro com zero acidente, zero emissão e zero congestionamento, como é a visão da GM. Vamos investir 35 bilhões de dólares para acelerar o desenvolvimento e a produção em escala de veículos elétricos e autônomos até 2025. Estamos investindo agressivamente em um plano abrangente e altamente integrado para garantir que a GM lidere em todos os aspectos da transformação para um futuro mais sustentável.

Para chegar lá, as parcerias com diversas entidades do mundo inteiro são fundamentais. Os governos que definem as legislações, os consumidores que demandam produtos mais sustentáveis e os sindicatos e fornecedores que precisam, junto com as montadoras, se reinventar, são exemplos dos papeis de cada público nesta jornada. O foco da GM será oferecer veículos zero emissões em diversas faixas de preços e trabalhar com todas as partes interessadas para construir a infraestrutura de carregamento necessária e, assim, promover a conscientização do consumidor, mantendo empregos de alta qualidade, que serão todos necessários para atender a essas metas ambiciosas.

Claramente, os mercados ao redor do mundo se moverão em velocidades diferentes com base em uma série de fatores. O que está totalmente em nossas mãos é o compromisso de entregar 30 modelos totalmente elétricos até 2025 globalmente. Apesar da pandemia, continuamos no caminho certo para cumprir esse compromisso. Também continua-remos a aumentar a eficiência energética de nossos veículos tradicionais de combustão interna em linha com as regulamentações locais, oferecendo inovações como Stop/Start, aerodinâmica, motores econômicos, transmissões mais eficientes e outras melhorias nos veículos, incluindo redução de massa e pneus com menor resistência ao rolamento. Para lidar com as emissões de nossas próprias operações, iremos fornecer 100% de energia renovável para abastecer nossas unidades globais até 2035.

Folha - No dia 12 de agosto, a General Motors inaugurou, oficialmente, em São Caetano, suas instalações. Poderia nos contar sobre a importância da fábrica no município e ao longo destas décadas, quantos e quais veículos foram produzidos no local?

 Marina - A história da GM no Brasil se confunde com a própria história da indústria automotiva no país. Temos cidades que foram formadas praticamente ao redor das nossas fábricas, como a de São Caetano. Fabricamos carros icônicos no país como o Opala e até geladeiras Frigidaire que estiveram presentes na casa de boa parte dos brasileiros.

Mas acredito que nos últimos anos estamos passando por um dos momentos mais importantes da nossa história. Desde 2014, a GM vem fazendo investimentos importantíssimos no Brasil. Acabamos de encerrar o primeiro ciclo, de R$ 13 bilhões, entre 2014 e 2019 e, em 2021, iniciamos mais um ciclo de R$ 10 bilhões. Esses são fatos históricos porque somados os dois ciclos, temos o maior montante de investimentos de uma empresa na história da indústria automotiva brasileira no período de uma década.

Neste momento, estamos investindo mais uma vez na fábrica de São Caetano, trazendo novas tecnologias para receber a Nova Montana. Apesar de ser a fábrica mais antiga da indústria automotiva em operação no Brasil, devido aos grandes investimentos, hoje ela é uma das mais tecnológicas do mundo, e isso é muito importante, pois mostra que ela não parou no tempo. Pelo contrário, é uma fábrica que acompanhou toda a evolução do setor automotivo e não perde para nenhuma outra.

A fábrica de São Caetano iniciou suas operações produzindo ônibus com carroceria de madeira e furgões. Produziu também caminhões, carrocerias de madeira para caminhões e geladeiras Frigidaire, além de baterias da marca Etna, hoje AC Delco. Nos anos 40, produziu veículos militares e material bélico, além de molas semi-elíticas. Também foram produzidos para as Forças Armadas Brasileiras caminhões para transporte de tropas e materiais, reboques de duas rodas e unidades de cozinha de campanha, além de recipientes para transporte de gasolina e outros materiais. A empresa fabricou ainda itens que jamais imaginou sair de suas dependências, como poltronas de vagões, molas de locomotivas e aparelhos de gasogênio para carros e caminhões. Os principais carros de passeio produzidos em São Caetano são: Opala, Monza, Omega, Vectra, Corsa, Kadett, Astra, Cobalt e Cruze. Já os produzidos atualmente: Novo Tracker, Spin, Joy e Joy Plus.

Folha -  Recentemente, a GM anunciou que irá produzir uma picape inédita no complexo industrial de São Caetano, que tem recebido melhorias. A unidade de São Caetano já possui elevado nível tecnológico dentro do conceito da indústria 4.0. Quais modificações a fábrica tem recebido e quando será iniciada a produção do novo veículo?

Marina - Entre as tecnologias que estão sendo implementadas na fábrica estão novos robôs de funilaria, uma nova prensa, muito mais rápida, que será a única deste tipo nas Américas, na nossa planta de polímeros, estamos instalando novas injetoras e temos um novo sistema de pintura que não utiliza água. Esses são somente alguns exemplos entre tantos outros que trazem mais segurança, qualidade  e eficácia para o nosso processo.

Folha - São Caetano celebra 144 anos. Qual o presente que a GM gostaria de dar ao município?

Marina - Nosso desejo é sempre causar um impacto positivo nas comunidades onde estamos presentes. Seja socialmente, com a geração de empregos qualificados; ambientalmente, com nossas áreas de preservação e condutas de sustentabilidade; e economicamente, gerando riqueza para os municípios onde estamos instalados. Nós estamos trabalhando para sermos a empresa mais inclusiva do mundo enquanto buscamos nossa visão de futuro de zero acidente, zero emissão e zero congestionamento e São Caetano faz parte disso.