04 May 2024


Santana: "Temos o desafio de combater a precarização do trabalho”

Publicado em Política
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O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, que foi reeleito, no ano passado, em plena pandemia, revelou, em entrevista exclusiva que, tem dedicado seu mandato ao combate à pandemia e ao contágio dentro das fábricas e de muita luta por políticas de proteção ao emprego, avalia que o 1º de Maio é “um dia para os trabalhadores, para que eles lembrem suas conquistas e preparem suas lutas. Santana, ainda, ao comentar a relação do Sindicato com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, evidenciou o papel que a entidade poderá desempenhar em 2022: “em todos os momentos e um tudo que se refere ao presidente (Lula) estamos e estaremos presentes”. Confira.

FOLHA DO ABC-O sr. foi reeleito, no ano passado, com 97,7% dos votos. Ainda em plena pandemia, qual o balanço das ações que o sr. faz deste segundo mandato?  

Wagner Santana- Fui reeleito já em meio à pandemia. Aliás, foi a primeira eleição realizada de forma virtual no Sindicato. Naquele momento não havia questão mais prioritária do que a adoção de medidas de proteção à vida dentro das fábricas e proteção do emprego. E hoje, quase um ano depois, estas são as questões que ainda continuam sendo essenciais e prioritárias. Foi um ano de mandato dedicado ao combate à pandemia e ao contágio dentro das fábricas e de muita luta por políticas de proteção ao emprego. Conseguimos acordos que foram determinantes para garantir a proteção à vida, à renda e ao emprego. Mais de 30 mil trabalhadores ficaram protegidos por meio dos acordos de suspensão do trabalho, outros milhares por meio de redução de jornada e utilização de ferramentas como banco de horas. Foi um ano que exigiu ineditismo nas ações e este continua sendo nosso desafio, uma vez que a situação não foi superada. Em paralelo à isso, continuamos trabalhando e discutindo outros temas importantes, como as transformações que estão se dando nas indústrias em relação à chamada Indústria 4.0, com novas tecnologias digitais dentro dos processos de produção. Muita coisa está se transformando no sistema produtivo e rapidamente. Há, por exemplo, um processo acelerado acontecendo no mundo de substituição dos combustíveis fosse pela eletrificação nos veículos. Criamos também a IndustriAll Brasil, que reúne os sindicatos dos setores industriais do Brasil, filiados à CUT e Força Sindical, uma ação no sentido de melhorar nossa organização dentro do movimento sindical, outro desafio que se impõe dadas as mudanças que estão ocorrendo no mundo do trabalho.

FOLHA-Em abril de 2018, o Sindicato ganhou os holofotes do país, ao abrigar o ex-presidente Lula, antes de se entregar à Polícia Federal. Em março deste ano, novamente, na sede do Sindicato, Lula fez o primeiro discurso após a anulação de suas condenações e devolução dos seus direitos políticos. Como o sr. avalia esse protagonismo do Sindicato e sua importância no cenário da política nacional? Em 2022, o Sindicato continuará figurando nas eleições presidenciais junto ao Lula?

Santana- O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC é a casa do presidente Lula. É onde ele se sente mais à vontade, afinal foi aqui que ele se lançou na vida política através do seu mandato como presidente, do seu protagonismo no final da década de 1970 e início dos anos 80, nas grandes greves que foram, inclusive, embriões da formação da CUT e do PT. O Sindicato faz parte da vida dele nestes momentos difíceis pelos quais ele passou – vamos lembrar que ele preferiu também fazer o velório da Dona Mariza no Sindicato – é mais do que natural, pois há uma relação pessoal e umbilical. Em todos os momentos e em tudo que se refere ao presidente estamos e estaremos presentes.  Mas isso acontece não só pelo fato de ele ter sido presidente do Sindicato ou pela lealdade que ele manteve a essa categoria em todo esse período. Não é só por uma relação histórica. Quando ele se tornou presidente da República nossa categoria tinha 80 mil trabalhadores e chegou a 119 mil no seu mandato. Foi um ganho enorme para os trabalhadores metalúrgicos, que refletia o que estava acontecendo em todo o País. Estava acontecendo aquilo que ele tinha prometido na campanha, que era gerar emprego para transformar o Brasil. Nossa categoria viveu isso na pele, foram criados quase 40 mil postos de trabalho, o que reforça nosso respeito e admiração. Suas ações na presidência da República fizeram com que a categoria crescesse e a região do ABC crescesse, assim como todo o Brasil, distribuindo renda e emprego. É esse o nosso grande referencial, que o credencia a – se ele assim decidir – ter o apoio de grande parte nossa categoria novamente. Reforço: não é só pelo seu histórico, mas por tudo que fez como presidente não só para a categoria, mas como para toda classe trabalhadora brasileira. É quase uma decisão óbvia.

FOLHA- Vivemos um dos mais delicados da história, a situação da economia é muito difícil, devido ao novo coronavírus. Como está a situação dos trabalhadores do ABC, em um ano de pandemia? Como o Sindicato tem auxiliado na preservação dos empregos, minimizando os impactos da pandemia?

Santana- Hoje, além da luta diária por cuidados de saúde e cumprimento de protocolos sanitários nas fábricas, das propostas que elaboramos e da pressão que fazemos junto às instâncias governamentais por políticas de garantia de emprego, nos dedicamos a pensar e planejar o futuro pós-pandemia, que não será fácil. Pensar o futuro, focados nos novos modelos de produção e tecnologias, novas formas de motorização dos veículos, que vão afetar diretamente o emprego e as relações de trabalho na nossa região. Pensar em novas formas de organização do movimento sindical, para que possam atender inclusive aqueles que já não são hoje mais trabalhadores formais, não têm carteira de trabalho. Aqueles que fazem “bicos” e que precisam saber qual sua real condição. Eles não são “empreendedores”, mas sim trabalhadores ainda mais explorados.

O movimento sindical tem o desafio de se reorganizar e representar esses trabalhadores de forma a trazer conquistas que melhorem suas condições e relações de trabalho, que às vezes nem existem. Muitos trabalham para aplicativos digitais, não têm sequer um patrão com quem eles possam negociar. Temos o desafio de combater todas as formas de precarização do trabalho, estabelecidas ou agravadas pela Reforma Trabalhista, ainda no governo Temer, que prejudicou demais os trabalhadores. A mudança na legislação, intencionalmente, o peso dos sindicatos, e com isso dos empregados, nas mesas de negociação. O trabalhador sempre foi a parte mais fraca nesta relação, sempre será, e a reforma atingiu os sindicatos para aumentar ainda mais essa diferença. Combater e lutar pelo fortalecimento das organizações sindicais para que possam de fato trazer ganhos aos trabalhadores, inclusive aos informais, é essencial para construir um futuro melhor e mais igual.

A desigualdade é o que assola nosso país, o que estamos assistindo é o empobrecimento da população. Muitos daqueles que ascenderam à classe média nos governos Lula e Dilma estão descendo degraus, retornando às classes D e E. As perspectivas são de um aumento ainda maior na quantidade de pessoas e famílias empobrecendo. Esse é um desafio para o Sindicato. Aquilo que o Brasil crescer no pós-Covid tem de ser distribuído e não concentrado, como vimos neste ano passado de pandemia, quando a concentração de riqueza só aumentou.  Não adianta sair da crise com crescimento concentrado, provocando desigualdade maior ainda.

FOLHA- Neste Dia 1º de Maio, há motivos para os trabalhadores festejarem? Como será celebrada esta data tão importante?

Santana- Não costumo usar o termo festejar o Primeiro de Maio. Considero uma distorção ideológica em relação ao significado desta data. Patrões, governos e neoliberais querem o Primeiro de Maio focado num Dia do Trabalho. Para nós, dia do trabalho são os outros 364 do ano. O Primeiro de Maio é um dia dos trabalhadores, para que eles lembrem suas conquistas e preparem suas lutas, tendo em mente que a classe trabalhadora deve estar unida para se apropriar da riqueza que produz. É uma data importante porque ela marca as lutas que nós travamos e especialmente aquelas que ainda precisamos enfrentar. Várias lutas estão colocadas agora. A necessidade da vacinação para toda a população é uma prioridade, assim como a luta em defesa da Saúde Pública, a defesa do emprego com qualidade, o combate à desigualdade e o combate à fome, que é produto dessa desigualdade. Hoje, enfrentamos também o retorno da carestia. Infelizmente assistimos a retomada necessária das campanhas de arrecadação, e desta vez não é mais como fazíamos na década de 1990, quando as doações eram para os nossos irmãos do Nordeste. Agora é aqui, ao nosso lado, nas periferias desta grande e rica cidade de São Paulo. Este é o sentido do Primeiro de Maio, de solidariedade, de nos entender como classe, lembrar nossas lutas e conquistas e, principalmente, preparar a classe trabalhadora para os desafios que teremos na retomada pós-pandemia, na luta pelo País que queremos. Um país de inclusão.

Última modificação em Sábado, 01 Maio 2021 10:30
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