O prefeito de Santo André, Paulo Serra, e o secretário de Infraestrutura e Serviços Urbanos, Vitor Mazzeti Filho, anunciaram, na terça (16), o Plano Municipal de Arborização Urbana para a cidade.

A proposta tem como objetivo diagnosticar a atual situação das árvores da cidade, substituir as que apresentem riscos e plantar novas mudas. Haverá, a partir desta quarta (17), consulta pública, por 30 dias, antes de passar por votação na Câmara para ser aprovada.

De acordo com o prefeito, Santo André vai ampliar para 60 mil o número de árvores na cidade e trocar 14 mil espécies inadequadas por outras recomendadas para a área urbana. Atualmente, a cidade possui, no total, 39.531 indivíduos vegetativos georreferenciados pela plataforma de Sistema de Informações Geográficas Andreense (Siga), de acordo com dados do inventário arbóreo do viário de Santo André.

“O Plano de Arborização está sendo construído em sintonia com a questão da mudança climática que temos enfrentado. Esses eventos extremos com ventos de mais de 90km/h, já são resultado dessa mudança climática que chegou e isso obriga as cidades a ter um plano ainda mais específico. O Plano é resultado da nossa ida a COP 28”, justificou Serra.

Segundo o prefeito, as pessoas têm uma tendência de culpar as árvores e as responsabilizá-las pelos problemas da mudança climática. “Temos que atuar na questão da ação imediata para minimizar os efeitos dessa mudança climática no cotidiano. Com o plano, atacamos a prevenção para diminuir a velocidade do aquecimento, se aumentarmos a nossa cobertura vegetal, se plantarmos espécies adequadas para a zona urbana, se conseguirmos conciliar o crescimento da cidade desordenado com uma cobertura verde maior e é possível fazer isso”, disse.

Na avaliação do secretário de Meio Ambiente, Fábio Picarelli, o Plano de Arborização, sendo aprovado pela Câmara, trará benefícios. “Não só do ponto de vista ambiental, como também pontuará melhor a cidade em vários índices e programas do Governo do Estado de São Paulo, como o Município Verde Azul, que Santo André participa desde o início. Afora isso, melhorará a sensação de bem estar do Andreense, valorizará os bairros e vilas, como também terá um impacto positivo para amenizar o forte calor”, frisou.

ESPÉCIES DAS ÁRVORES DA CIDADE

O secretário Mazzeti revelou que foi diagnosticado que 318 espécies heterogêneas representam 26% da arborização atual e 18 espécies representam 74% da arborização. “Espécies como Hovenia dulcis (uva do Japão) e Ligustro (Ligustrum lucidum) representam a maioria das árvores de nossa cidade e não são as mais adequadas para o ambiente urbano”, disse ao sugerir que o problema da queda de árvores nas tempestades se dá, também, devido ao tipo de espécie inadequado.

Não foi mencionado pelo secretário, nem pelo prefeito fatores que podem influenciar negativamente a saúde das árvores e levá-las a queda com os fortes ventos, tais como poda irregular e abusiva dos galhos, que contribuem para o surgimento de pragas, o sufocamento das raízes com o concreto das calçadas, que podem levar ao desequilíbrio das árvores, tampouco quais espécies serão escolhidas para ser plantadas no processo de substituição das 14 mil árvores. “Vamos abrir as discussões, estamos fazendo estudos que vão revelar as novas espécies”, disse o prefeito à Folha.

 No ranking da arborização elaborado pela Prefeitura, os dez bairros que ainda apresentam maior cobertura vegetal são: Valparaíso, Casa Branca, Vila Scarpelli, Vila Alpina, Paraíso, Vila Tibiriça, Jardim Itapoan, Bairro Jardim, Vila Gilda e Vila Alzira.

REMOÇÃO DE ÁRVORES

Apesar do Plano, dados do Departamento de Manutenção de Áreas Verdes (DMAV), apontam que de 2017 a 2023 houve 15.356 solicitações de remoção de árvores recebidas. Em 2017, houve a remoção de 515 árvores, e em 2023 esse número aumentou cerca de 579%, passando para 2.982 árvores.

O secretário anunciou que, como forma de compensação ambiental, em 2017, foi feito o plantio de 730 mudas e, em 2023, 4.848 mudas, porém a área de plantio não foi especificada.

A assessoria de imprensa da Prefeitura apenas informou: “Foram em todas as regiões da cidade, incluindo espaços públicos inaugurados como praças”.

ENEL

A substituição dos fios elétricos aéreos para fiação subterrânea, para evitar os problemas de quedas de árvores, ainda ficará distante de Santo André. O diretor de Relações Institucionais da Enel, Marcos Augusto Mesquita Coelho, que também esteve presente no anúncio do Plano, revelou que “por muito tempo” o padrão do Brasil será o de fiação aérea.

“Infelizmente, por mais que a gente venha planejar o nosso futuro, por muito tempo o padrão do Brasil será uma rede aérea. Hoje, o custo de 1 km de fiação aérea está em torno de R$ 400 mil para implantar. Agora, para fazer 1 km de rede subterrânea, são R$ 4 milhões”, disse.

À Folha, o diretor confirmou que algumas podas realizadas pela concessionária podem gerar instabilidade e perda de equilíbrio, intensificadas com o fototropismo, levando-as a queda. “É possível que algumas dessas podas tenham esse tipo de problema, mas certamente não é a regra, porque o nosso manual de podas, ele não indica a poda em V, como sendo a poda adequada.  Toda vez que cai uma árvore as pessoas ficam procurando quem é o culpado e num desastre como esse, não tem um, todo desastre tem causas múltiplas”, afirmou.

De acordo com Mesquita, é preciso agir em parceria com as Prefeituras. “Precisamos de acordos com as Prefeituras de forma que tenhamos o licenciamento rápido, que é o que precisamos, e ao mesmo tempo consigamos colaborar com as Prefeituras, porque senão a única coisa que tem é desligar a rede para a Prefeitura faça a poda sem riscos. Desligar a rede é a última coisa que queremos, temos que caminhar para esse tipo de acordo”, enfatizou.