A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP) organiza dias 3 e 4 de novembro, das 14h às 20h, a 9ª edição do “Seminário de Ética e Direitos dos Animais”, cujo tema central será “Utilização de Animais na Experimentação Científica”. Entre os destaques da programação está a palestra da professora da disciplina de Propedêutica Médica da Faculdade de Medicina do ABC, Odete Miranda, convidada para apresentar a experiência da instituição como primeira faculdade de medicina do país a abolir o uso de animais vivos nas aulas de graduação.

Com entrada gratuita, o simpósio terá lugar no auditório da Casa de Cultura Japonesa (Av. Prof. Lineu Prestes, 159 - São Paulo), na Cidade Universitária da USP Butantã, sob responsabilidade do Grupo de Pesquisa sobre Ética e Direitos dos Animais do DIVERSITAS - Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da FFLCH/USP. O objetivo é promover espaço de diálogo crítico acerca da questão da apropriação dos animais para o uso das biociências, as implicações éticas, políticas, mercadológicas e jurídicas. Interessados podem obter mais informações e se inscrever pelo http://diversitas.fflch.usp.br/node/3751 ou via e-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo..

Serão mais de 15 palestras ao longo dos dois dias, com temas versando sobre “Pesquisa interdisciplinar e direitos dos animais”, “A imprensa e o Instituto Royal: uma parceria para desinformação”, “O falso dilema da experimentação animal reproduzido pela grande mídia”, “O lobby pró-vivissecção e a derrota do PL n. 1.691/2003”, “A objeção de consciência como estratégia para a substituição do uso de animais no ensino: enfrentamentos e potencialidades” e “Por uma nova Biologia: o pluralismo metodológico frente ao reducionismo vivisseccionista”, entre outros. A última explanação do simpósio será sobre “A experiência da abolição do uso de animais no ensino da Faculdade de Medicina do ABC”, com a Dra. Odete Miranda.

Trabalho pioneiro

A Faculdade de Medicina do ABC tornou-se em 17 de agosto de 2007 a primeira faculdade de medicina do país a abolir o uso de animais vivos nas aulas de graduação. A prática passou a ser permitida somente para pesquisas inéditas, com relevância científica e previamente aprovadas pelo CEEA - Comitê de Ética em Experimentação Animal da FMABC.

À época, a decisão gerou grande polêmica entre professores e alunos, além de questionamentos sobre possíveis prejuízos ao ensino. Entretanto, o tempo mostrou que a decisão pioneira foi acertada. Os alunos do curso de Medicina que ingressaram a partir de 2008 não tiveram aulas com animais vivos. Esses mesmos alunos, quando chegaram ao 6º e último ano da graduação, participaram do ENADE - Exame Nacional de Desempenho de Estudantes, do Ministério da Educação, e obtiveram nota máxima 5, confirmando que a ausência de animais vivos nas aulas não compromete o ensino da Medicina.

Entre as principais alternativas utilizadas para substituição de animais vivos estão softwares, bonecos, uso de animais quimicamente preservados (que tiveram morte natural) e incorporação dos cursos básicos à prática clínica – quando o aluno passa a aprender com casos reais, em seres humanos.

Em 2008, a decisão da FMABC rendeu homenagens na Câmara de Vereadores de São Paulo. O então diretor, Luiz Henrique Camargo Paschoal, recebeu a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo. Já a vice-diretora, Dra. Maria Alice Tavares da Silva, recebeu o título de Cidadã Paulistana.

Já em dezembro de 2015 foi a vez das docentes Odete Miranda e Registila Beltrame receberem o “Prêmio Palmas para o Bem”, oferecido pelo Fórum de Proteção e Defesa Animal da Cidade de São Paulo durante a conferência “O fim dos testes em animais – a nova era em avaliação de segurança em cosméticos e medicamentos”. O evento ocorreu na Câmara Municipal de São Paulo e reconheceu os esforços das professoras da FMABC para a proibição do uso de animais vivos nos cursos de graduação – trabalho que contou com fundamental contribuição de outros docentes da instituição, como a Nédia Maria Hallage.