25 Apr 2024

Publicado em TITO COSTA
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Nos Estados Unidos, onde a gente pensa que tudo são flores, acabamos por concluir que não é bem assim. De repente  estoura uma revolta coletiva em razão de descontentamento  da comunidade negra pela distinção ainda bem clara numa discriminação racial ainda viva e sempre aflorada naquele país. Certa vez lí em alguma passagem de fato demonstrativo dessa distinção que ela estará sempre presente na vida americana. Pois, por incrível que pareça, ainda temos noticia, de vez em quando, ou de vez em sempre, de fatos denunciadores  de uma política racial sempre presente nesse país onde se canta a liberdade como uma de suas principais características. Pelo menos em tema de discriminação racial o país ainda vive uma tradição inquestionável: o repúdio dos brancos em relação aos negros. Um filme interessante, entre outros nos mostrou a realidade: uma senhora branca bem colocada na sua posição social tem um motorista negro a seu serviço diário. Saem ambos, ela para ir às compras e ele como mero condutor.  No meio do caminho o motorista “precisa ir ao banheiro” e revela sua necessidade urgente. O carro para num restaurante da estrada para desafogo do infeliz, claro que com a aquiescência da patroa. E ele vai a uma moita de capim por trás da qual irá desincumbir-se da tarefa urgente. A dona  fica à espera no carro, com a naturalidade de uma situação “normal”. Logo em seguida chegam a um restaurante de beira de estrada. A dona dirige-se ao local apropriado para ir ao toalete, ao qual o motorista não tem acesso. E ele fica à espera no carro. Interessante notar que, no filme, a dona não manifesta nenhuma distinção em seu comportamento, tudo muito natural, respeitando o distanciamento de praxe entre ambos. E o filme segue deixando para trás o fato que registrava a diferença.
Mas a dona não alimenta a habitual discriminação e até insistiu para que ele utilizasse o local reservado a ela e aos brancos em geral. Ele resiste, pois está nele, instalado  o costume da diferenciação. E mais: o temor de um “deixa pra lá” de algum fanático senhor de uma situação de desigualdade que impera na cabeça dele e na do outro, também.
E nós que não alimentamos o hábito ficamos intrigados, para não dizer irritados com essa tão falada distinção social racial e absurda.
O caso me veio à cabeça numa festa de noivado de uma  mulher branca com um jovem negro. Havia um natural esforço dos protagonistas da reunião para não deixar aflorar a discriminação, mas ela pairava no ar e nos menores gestos deles, disfarçados, como se tudo fosse absolutamente natural. E eu me perguntando: por que isso acontecia?
A natural resposta era: porque sempre acontecia, quiséssemos ou não.
E até quando?
Não adianta apelarmos para a natural existência de uma discriminação racial que temos como formação de nosso caráter. É difícil de aceitar, mas aceitamos. Monteiro Lobato tem uma história a respeito: a negrinha filha da cozinheira brincando com uma boneca da filha da dona da casa. Mas essa dona é intransigente e não admite o fato: retira das mãos da pretinha, com o furor para ela natural da intolerância racial. E aplica-lhe um castigo exemplar. Onde se viu tanta naturalidade o gesto da negrinha de querer brincar com uma boneca? E onde se viu tal ponto de intolerância da senhora dona para com uma menina inocente deslumbrada com uma simples boneca?
Tudo isso me vem à cabeça ante o fato tão estranho quanto intolerante Ou intolerante e por isso mesmo, estranho.

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