26 Apr 2024

Publicado em TITO COSTA
Lido 608 vezes
Avalie este item
(0 votos)


TITO COSTA


Vamos voltar ao surrado soneto de Machado de Assis: “Mudaria o Natal ou mudei eu ?”.  Todos nós mudamos, o mundo mudou. As festas natalinas são cada vez mais comerciais: presentes, cartões, mensagens apenas formais com os votos de sempre e as esperanças de sempre para um inatingível mundo melhor, homens e civilizações melhores. A cidade se enfeita com árvores e luzes, uma beleza para os olhos, fica faltando o miolo, a alma, o coração, as intenções que não se cumprem.  Estamos diante de uma alegria postiça, fabricada, até mesmo hipócrita, por que não ? . Não se duvida que Cristo existiu, que pregou a bondade, o amor ao próximo, que se sacrificou pela humanidade, etc. Tudo indica que pregou e morreu em vão.  Pois o maior foco de desentendimento entre homens e nações situa-se exatamente na região onde Ele nasceu, viveu e se deixou imolar, como contam as Escrituras.

Natal é festa cristã, e entre as  celebrações religiosas é a que mais se aproxima das festas judaicas.  Afinal, Cristo era judeu. Seus pais e os apóstolos, todos judeus.  E os judeus comemoram, neste tempo, a festa das luzes, a Hanucá, com o candelabro de sete velas acesas nas casas durante oito dias. É um simbolismo que lembra bem o espírito cristão onde as velas têm um significado especial de prece, de gratidão, de esperança, de promessa, de festa ou de tristeza como acontece nos velórios e nos cemitérios.

O 25 de Dezembro para nós, corresponde ao 25 Kislev que é o 9º mês judaico relativo a novembro/dezembro do calendário cristão e que é o primeiro mês de inverno na terra de Israel, mês das chuvas por lá. Reza a tradição cristã que Jesus Cristo veio ao mundo, enviado pelo Pai, para trazer a Paz. Acontece que a região onde Ele nasceu tem sido sempre a mais conflagrada por disputas intermináveis, pela violência de guerras e de atentados constantes. E outro poeta, o baiano Castro Alves a perguntar: Deus, onde estás que não respondes ?  Ele lembrava a escravatura, mas a pergunta é oportuna ainda e sempre.

A igreja católica tem celebrações litúrgicas especiais para o tempo de Natal, entre as quais a popular Missa do Galo. Em eras mais remotas, na minha infância, por exemplo, a missa começava à meia-noite, mas agora, com a violência e a bandidagem solta nas cidades, mudou-se para a tarde ou o inicio da noite, os fieis apavorados com medo de  possíveis assaltos na selva de violência em que estamos mergulhados.  E assim, voltando ao soneto de Machado de Assis, a conclusão é esta: mudou o Natal, mudáramos nós, a fé se dilui nos tempos e nos costumes, mesmo porque ela não nos dá respostas convincentes às nossas  aflitas indagações.  Pessimismo de um cronista desencantado ?  Pode ser.  Mas o leitor atento certamente vai concordar com este desabafo natalino.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Última modificação em Sexta, 21 Janeiro 2011 18:52
Folha Do ABC

A FOLHA DO ABC traz o melhor conteúdo noticioso, sempre colocando o ABC em 1º lugar. É o jornal de maior credibilidade da região
Nossa publicação traz uma cobertura completa de tudo o que acontece na região do ABCDM.

Mais nesta categoria: Cartas nem sempre discretas »

6 comentários

Deixe um comentário

Make sure you enter the (*) required information where indicated.Basic HTML code is allowed.

Destaques

Main Menu

Main Menu