08 May 2024


O lenço, esse nosso companheiro

Publicado em TITO COSTA
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Alguém me disse outro dia que os lenços comuns saíram de moda porque só se usam hoje os de papel. Não é verdade. Além de serem requisitados para os serviços normais, os lenços se prestam para muitas utilidades, não apenas para as prosaicas maneiras de assoar o nariz, como também para abafar espirros ou soluços. Suas funções têm sido louvadas por poetas ao longo dos tempos.

Uma trova de tantas que se apresentaram em concursos nacionais de trovadores, em São Bernardo, dos meus tempos de prefeito, assim diz: "Meu lenço, na despedida/ tu não viste em movimento/ lenço molhado, querida/ não pode agitar-se ao vento". O festejado escritor português José Saramago, prêmio Nobel de literatura, tem um poema sobre Jogo do Lenço em que descreve as utilidades desse objeto útil para o choro, as despedidas, o ferimento de um dedo que sangra, o suor da testa molhada, a lágrima contida etc.

Diz o poeta e romancista que não teria fim se tivesse que registrar as graças todas de seu lenço e de suas serventias, mas uma coisa deixa bem claro, lembrando-se da amada: "Quando os meus olhos molhados/Pedem o auxílio do lenço,/São pedidos escusados./E é bem por isso que penso/Que os meus olhos, se molhados,/Só se enxugam no teu lenço". É deveras interessante a veia dos poetas que tiram beleza até das coisas mais simples e, aparentemente, desinportantes. Afinal um lenço é um lenço, mas se transfigura em poesia saída da cabeça de quem sabe fazê-la. Assim também a insuperável Cecília Meireles, poeta das maiores, com sua candura e sensibilidade falando-nos de um certo lenço de Marília, lavrado a ponto cruzado com flores e dois pombinhos desenhados, para o Amado ! "Este é o lenço de Marília:/bem vereis que está manchado:/será do tempo perdido?/será do tempo passado?/Pela ferrugem das horas?/ou por molhado/em águas de algum arroio/singularmente salgado?". O lenço de Marília, no dizer de Cecília, bem retrata o destino dos amores, pois que " o lenço para os adeuses/ e o pranto foi inventado".

Do lenço de Marília, guardado século e meio, reclama a poeta: "Que amores como este lenço têm durado, se este mesmo está durando mais que o amor representado?". Então ? Só mesmo lenços de verdade, que não os descartáveis de papel, que além de nossos suores, servem para o consolo das lágrimas pelos perdidos amores.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

Última modificação em Terça, 25 Janeiro 2011 09:04
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