25 Apr 2024

Publicado em TITO COSTA
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Nestes tempos de crise política no Egito os camelos têm tido presença destacada no noticiário e na paisagem daqueles desertos infindáveis. O animal ganhou importância desde a referência a ele no evangelho de Matheus (19,22) com aquela comparação, discutível em sua interpretação, de que seria mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino do céu. Turistas de passagem por aquelas plagas nunca perdem a oportunidade de um passeio a bordo de um camelo, enfrentando até mesmo os riscos naturais da aventura. E haja paciência para agüentar as insistências dos cameleiros oferecendo seus préstimos e os do camelo para uma experiência incomum.  E lá se vão os incautos com ridículos lenços coloridos na cabeça, sacolejando no lombo ou nas corcovas do animal, prontos para a indefectível foto que vão exibir depois aos amigos tendo como fundo as famosas pirâmides consideradas uma das sete maravilhas do mundo antigo. Estranhos animais esses, de aparência desagradável, mal cheirosos como os seus donos ou tratadores que não tomam banho, seus dentes esverdeados e sujos exalando odor intolerável. São conhecidos pela resistência física e pela capacidade de acumular no estômago enorme quantidade de água que lhes permita vencer as longas distâncias da imensidão dos desertos com suas areias ferventes. 

 Amigo meu, recém chegado de viagem por aquelas paragens, falou-me da experiência nos altos de um camelo meio cego que o fez saracotear nas suas corcovas e ainda pagar caro pelo passeio e pela manta colorida que foi obrigado a adquirir afim dar mais cor local aos saracoteios a que se deixou entregar. Mas valeu pelo sucesso das fotos quando as exibiu triunfante a amigos e parentes no retorno do seu périplo pelo deserto, junto das pirâmides e pisando areias escaldantes.

Está também nas sagradas Escrituras, além da idéia de improvável passagem do volumoso animal pelo buraco de uma agulha, que João Batista, ao batizar Jesus nas águas do rio Jordão, cobria-se com uma pele de camelo, segundo o relato do evangelista Marcos, eis que se tratava de vestimenta usual naqueles tempos remotos da vida da humanidade.  E os camelos, sempre integrados nessa história como personagens especiais, pacientes, indiferentes à exploração de seus esforços, escravidão consentida, animal tido como impuro e assim considerado no Levitico, um dos cinco livros que compõem o Pentateuco (livro de Moisés), ou a Torá dos judeus. Passados os momentos mais cruciais da revolta popular vitoriosa contra os trinta anos de ditadura de Mubarak, no Egito, voltam os camelos à sua rotina de carregar turistas assanhados, indiferente aos seus próprios saracoteios, carregando pacientemente seu demorado destino.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Última modificação em Quinta, 17 Fevereiro 2011 11:27
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