26 Apr 2024

Publicado em DIVANIR BELLINGHAUSEN
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Quando em 2015 Manuel Filho escreveu o livro: “Histórias dos Bancos da Praça Lauro Gomes”, procurei uma redação que meu filho Ricardo havia feito em uma prova de português, mas não a achei. Fazendo aqui umas arrumações, eu a encontrei. Então agora segue.
Ricardo B. Coppini - n.7- Sétima série - dia 9-11-78
Português: Composição sobre O Avanço da Ciência, relacionado com o desaparecimento do romantismo.
Título: ”Memórias de um banco”
Eu era um banco, um simples banco, apenas um banco, que ficava num dos cantos da Praça da Sé. Havia muitos bancos perto de mim e todos eram meus companheiros, mas eu era o preferido por todos, porque perto de mim tinha uma sorveteria e em cima dela ficava a casa de uma linda senhorita. Eu e meus colegas éramos muito frequentados, principalmente os bancos que ficavam mais próximos da sorveteria. Todo dia sentava muita gente em cima de nós, mas não reclamávamos (nem podíamos) porque nos elogiavam falando que éramos bons lugares para descansar. Às vezes pessoas importantes sentavam em mim. Havia também os seresteiros que depois de fazerem a serenata para as suas damas vinham sentar e fazer juras de amor para suas namoradas. E por fim, vinham os poetas, ainda novatos que depois de compor suas poesias vinham recitá-las ou para suas namoradas ou para seus amigos.
Contudo, como tudo que é bom chega ao fim, chegou ao fim a alegria de nós, bancos. Com o avanço da Ciência (aquela tecnologia destruidora) a vida da juventude foi mudando e para nossa desgraça apareceram os automóveis e os cinemas. E o movimento foi baixando e certo dia aconteceu uma desgraça para nós: A sorveteria fechou!
Com o fechamento repentino da sorveteria (que pelo que escutei, faliu) ficamos abandonados, quase de todos, pois as pombas e os velhinhos ainda descansavam sentados em nós. Levamos muito tempo mais naquela monotonia sem ver ninguém conhecido, e sempre a mesma conversa: é tal que morreu, é amanhã a pescaria, meu time perdeu...
Até que um dia uma desgraça maior aconteceu para nós. Dois velhos se sentaram em mim e começaram a conversar:
-Você viu o que aconteceu? Perguntou um.
-Não vi... respondeu o outro.
-Quer saber?
-É lógico que quero.
Os velhos foram discutindo até que o que sabia da notícia disse:
-Nós vamos perder esses velhos bancos!
Eu quase me despedacei tamanho foi o meu susto.
-Porquê? Disse o desinformado.
-Porque vão reformar a Praça da Sé.
Então era assim. Ficamos por mais de 10 anos parados naqueles locais, tomando chuva, sol e frio para sermos deixados de lado. Era assim, pois a modernização fazia parte do progresso que por sua vez estava integrado na Ciência.
Começou a reforma. Não sabiam aonde pôr a gente. Queriam demolir-nos, mas eis que alguém tem uma dica que nos salva e a esta memória também. Resolveram nos mudar para outra praça sem bancos.  Eram da nossa antiga praça, mas eu não conhecia ninguém. Naquela praça nossa felicidade voltou, pois na região todos eram muito pobres e não tinham condições de ter carro e ir ao cinema. Então os namoricos voltaram, assim como as serestas e as poesias. Estávamos novamente felizes. Embora meus amigos não estivessem lá, eu tinha muitos novos amigos, pois a praça era pequena e todos os bancos podiam conversar.
Porém novamente eu digo: A felicidade não dura muito. Um avião caiu em cima da praça, destruindo mais da metade dela e arrasando mais da metade dos bancos também. E eu sou um desses infelizes de quem a ciência acabou com a alegria e que agora escreve essas memórias no céu, aonde apenas a Ciência da Paz alcançou.
Então eu digo: - A ciência destruirá o romantismo na Terra.
Meu filho tinha na época 13 anos. Transcrevi da forma como ele escreveu. Recebeu a nota 9. E como tudo mudou... A tecnologia tomou conta do mundo, com seus benefícios e também alguns malefícios...

Bons feriados, um abraço, Didi

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