26 Apr 2024

Publicado em TITO COSTA
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Há muitos anos, ainda jovem, em meus devaneios religiosos agarrados a lições e sérias advertências recebidas no Seminário (eu tinha 13 anos incompletos) escrevi um soneto denominado “Os monges”. Nele, depois de me referir à vida deles no claustro, rezando e se privando de todos os prazeres, inclusive os da boa mesa e, claro, os do sexo, terminei com este terceto (o soneto se compõe de dois quartetos e dois tercetos): “E que feliz parece cada monge/distante do prazer, do mundo longe/de olhos voltados para a Eternidade”.  
Agora leio no prestigiado psicanalista Contardo Calligaris reflexões sobre os recentes ataques do EI (Exercito Islâmico) a boates, cafés, casas de shows em Paris, a lúcida observação de que os jihadistas do EI nos desprezam porque somos todos fúteis. E atribui ao apóstolo Paulo o engajamento do cristianismo numa cruzada contra a futilidade e o prazer. Acrescenta, na sua análise, que os fanáticos jihadistas atacam em nós o que os seduz.
Volto agora ao Seminário.  Nos meus treze anos incompletos ouvia que os prazeres da vida, especialmente os do sexo, eram pecado; e cada vez que pecávamos, estaríamos, de novo, crucificando a Jesus.  Isso, agora, com todo respeito, cheira-me a terrorismo!
Nas aulas de religião os padres nos ameaçavam com castigos eternos no fogo do inferno quando pecássemos. Lembravam-nos o Evangelista Matheus: “quando olhares para uma mulher com espírito de cobiça, e intenção impura, já tereis cometido adultério em teu coração”. (Mt V, 27/28).
A obsessão contra o sexo e os prazeres decorrentes de sua prática, fora do casamento, era uma constante em suas lições aos assustados alunos. Ora, de acordo com a análise de Calligaris, acima lembrada, não será difícil reconhecer na condenação a esses prazeres da carne, via sexo, a própria frustração dos padres reféns do celibato obrigatório e de seus votos de pobreza e de castidade.  E vem o Calligaris de novo:  “Para os jihadistas que atacam em nós o  que mais os seduz, o prazer a as futilidades são sempre um pouco culpados, como se tivéssemos a obrigação de nos ocupar o tempo inteiro só com o divino e o absoluto”.
Faz tempo que o antigo seminarista entende o engano de avaliação ao aceitar, naquele soneto, a felicidade do monge, por fazer-se distante do prazer, de olhos voltados para a Eternidade.
Se a vida já nos é tão dura, amarga às vezes, por que não desfrutarmos das alegrias e dos prazeres que ela nos oferece?  Será isso, sempre, pecaminoso?

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